Educação intuitiva: da teoria à prática


Natália Fialho tem 36 anos, é tradutora e mãe de três filhos: um rapaz com cinco anos, uma rapariga com três e um bebé com sete meses. Aqui, conta ao IOL Mãe como tem sido passar à prática as teorias da Educação Intuitiva.


"Fui mãe pela primeira vez aos 31 anos. Comecei a procurar informação e a pensar que tipo de mãe iria ser, o que queria fazer. Só sabia que queria amamentar e que queria dar muito colo ao meu bebé. Comecei a pesquisar e a perceber que em Portugal a prática era diferente de muitas das coisas em que eu acreditava e de muitas outras que descobria e com as quais me identificava. Uma delas foi a Educação Intuitiva, que faz todo o sentido para mim.

O meu primeiro filho nasceu no hospital. Foi um parto induzido, mas eu só percebi depois. Isso despertou em mim um sentimento de que não estava por dentro de tudo, que as coisas me passaram ao lado. Foi aí que nasceu esta vontade de partilhar informação que não é veiculada pelo sistema, pelos profissionais de saúde, com uma formação que reflecte a indústria, as empresas farmacêuticas, o marketing...

Em relação à Educação Intuitiva, não quero passar a ideia de que é fácil. É difícil, por vezes. Isto não são fórmulas mágicas. E nem tudo o que nos parece fazer sentido funciona depois às mil maravilhas.
Às vezes vejo nos meus filhos comportamentos dos quais não gosto e penso 'isto sou eu'. Estou sempre entre duas cadeiras e não me sinto sentada em nenhuma: a das coisas que não quero fazer e a dos meus ideais que não consigo atingir. Às vezes reajo de acordo com os meus valores, outras vezes exatamente como a minha mãe reagiria.

Há uma preocupação que eu tenho e acho que é um risco que se corre muitas vezes: não quero que os meus filhos alguma vez sintam que não gosto deles incondicionalmente. Gosto sempre, mesmo que risquem o sofá. Quero que tenham esta base de segurança. Não quero que se torçam para viver segundo as minhas expectativas. Não quero que escondam asneiras que fizeram com medo da minha reação. Às vezes penso que não estou a conseguir isto, que é o mais importante para mim.

Neste momento, não vejo diferenças entre eles e outras crianças, à parte o facto de estarem em casa. São crianças normais. Espero que estejam mais seguros dentro deles do que muitas crianças. Mas não tenho garantia nenhuma quanto a isso. Também tenho dúvidas. E também procuro ajuda. Faço o que penso ser melhor, como todos os pais.

Nasci e cresci na Alemanha. Só estou em Portugal há nove anos. Lá nenhuma criança passa oito horas na escola. Eu lembro-me do tempo livre que tinha para brincar e quero isso para os meus filhos. Mesmo na escola primária, estávamos lá de manhã e depois passávamos a tarde em casa. Quero que os meus filhos possam ter isso. E não acredito no chamado «tempo de qualidade» que alguém inventou para descansar os pais que passam pouco tempo com os filhos. Tentam concentrar tudo em duas horas por dia que estão com eles, ou nem isso. Uma criança precisa de mais tempo com os pais!

Sei que conciliar o trabalho com a vida familiar é um verdadeiro desafio na sociedade portuguesa. Mas se eu não pudesse trabalhar menos para estar mais tempo com os meus filhos, teria de arranjar outra solução, ia viver para outro sítio, não sei.

Para mim não faz sentido gastar todo o meu salário nos infantários dos meus filhos, como fazem algumas mulheres que conheço. E depois têm a fotografia do bebé nas secretárias e vivem infelizes. Respeito, mas também peço respeito por outras opções. E que deixem de me ver como um ser extra-terrestre."

«Quero criar um vínculo forte. Isso não significa menos autonomia»

Mara Nunes é psicopedagoga, tem 30 anos e uma filha com 15 meses. Já seguia alguns dos princípios da Educação Intuitiva profissionalmente. Agora aplica-os na aventura de educar a sua filha.

"Já antes de engravidar já me interessava muito pela área da educação, pela vertente profissional. Mas procurava alargar conhecimentos e conhecer novas abordagens. Encontrei muitas visões diferentes da forma convencional de educar, da forma como a maioria de nós, pais, teremos sido educados.

Com a minha filha, comecei a tomar uma série de opções que eram instintivas para mim. Só depois conheci a Educação Intuitiva e percebi que se enquadrava nas opções que eu já fazia. Até aí achava que era uma visão pessoal, todas as pessoas à minha volta questionavam as minhas escolhas, como o parto em casa para respeitar mais o bebé e os seus ritmos, como pôr a minha a filha a dormir comigo, ou andar sempre com ela ao colo, no pano, ou ainda, hoje, continuar a dar-lhe de mamar.

Não sabia que havia um nome para tudo isso e grupos de pais que se juntavam para trocar experiências. Achei que fazia todo o sentido participar.
Penso que os pais hoje estão muito perdidos entre a forma ideal de educar e aquilo que conseguem, de facto, fazer. Por isso, estes grupos são muito úteis. Porque o mais difícil, neste processo, é lidar com as pressões exteriores.

A minha filha é bastante autónoma
Logo para começar, o parto foi muito respeitado e cada vez acho mais que o nascimento é a base de muito do que acontece ao longo da vida. Há coisas que têm explicação muito mais atrás do que nós imaginamos. Isso é logo um dos princípios da educação intuitiva.

Depois é tudo muito natural e ao ritmo dela. Até aos 12 meses, os sólidos foram sendo introduzidos muito devagar, só à medida que ela procurava. Foi alimentada sobretudo com leite materno. As pessoas achavam que ela ia ficar doente, que depois não ia querer comer.
Quando saio com ela para fazer caminhadas ou para ir às compras vai sempre no pano, desde as seis semanas de vida. Nunca usei o carrinho.

Hoje come praticamente tudo, adora comer, come sozinha com a sua colher. Para quem pensa que as crianças ficam muito dependentes, só posso dizer que a minha filha é uma criança normal, mas talvez mais autónoma do que é a média. Quando me dizem «Está muito agarrada a ti», eu respondo, «Claro, só pode estar a agarrada a mim, passa o dia comigo. A quem é que havia de estar agarrada?»

É isso que eu quero, que ela crie um vínculo grande e forte comigo. Quando se for afastando, ganhando autonomia sei que vai estar forte e segura. Esse é o instinto de todos os pais, mas pro razões culturais e pela forma como está estruturada a nossa sociedade, virada para o trabalho e ppara as questões económicas à frente de todas as outras, vamos contrariando isso e arranjando formas alternativas que agora defendemos como as melhores.

A minha filha já vai buscar o bacio sozinha de manhã e está a deixar as fraldas. Nunca teve cólicas. Nunca esteve doente, nem mesmo quando os dentes romperam. Está sempre bem disposta.

É precisa muita disponibilidade para estabelecer limites de forma inequívoca
Agora está a começar a querer fazer valer a vontade dela. Pela Disciplina Positiva, outro princípio da Educação Intuitiva, vamos procurar estabelecer limites, mas explicando-lhe o porquê desses limites e fazendo-a ver o que acontece quando não os respeita. Trata-se de envolvê-la de criar conhecimento com ela.

É um método que eu já usava no meu trabalho com crianças. Claro que com os nossos filhos é mais difícil. Claro que vai haver conflitos, mas acredito que esta é a melhor forma de educar. Vai haver birras, vai insistir em coisas que não são as que eu quero. Mas nós, pais, estamos lá para mostrar quais são os limites e para mostrá-lo sem margem para dúvidas, sem incoerências.
É difícil, é preciso muita experiência e auto-controlo. Há sempre limites, muito bem estabelecidos, não se pense que a criança anda à deriva a fazer o que lhe apetece a cada momento. Simplesmente evitamos o Não constante e os castigos.

Sei, por experiência, que a Discipina Positiva não leva a crianças mimadas e que não respeitam os outros. Tem o efeito precisamente contrário. O facto de participarem na criação de regras, não quer dizer que as vão transgredir mais, pelo contrário.
Claro que isto exige muito mais presença e muito mais disponibilidade. É nisso que eu acredito, é isso que eu quero dar à minha filha."

Fonte: http://mulher.pt/forum/index.php?action=printpage;topic=242.0

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