Notas de “A Criança e a Disciplina” de Brazelton e Sparrow.

Notas sobre a disciplina

Notas das leituras de PAL, versão original deste texto, aqui

Caminho para a auto-disciplina
A segurança que a criança encontra na disciplina é essencial, pois sem ela não há limites.
A disciplina exige repetição e paciência.
São necessárias regras e expectativas claras e consistentes e as consequências do seu desrespeito devem fazer-se sentir com firmeza.
Os pais não podem esperar qualquer espécie de gratidão por parte dos filhos até que estes experimentem as alegrias e os desafios de educarem os seus próprios filhos.

Pontos de referência da disciplina
Até aos 7 ou 8 meses é impossível mimar demasiado uma criança.
Tal como a disciplina, a alimentação deve ser uma conquista da criança. Lutar contra a determinação dela em se alimentar sozinha é uma batalha perdida.
Disciplinar significa também ajudar a criança a encarar e a dominar a frustração. Distrair a criança com um brinquedo mais apelativo pode ajudar, mas não dura muito tempo.
[Dos 9 aos 12 meses] começou o tempo da disciplina a sério. Até aqui a distracção era suficiente. Agora exige-se firmeza.
Deve entender-se a desobediência como uma forma de aprendizagem através da tentativa e do erro e não como um ataque pessoal a nós, os pais.
As mensagens claras e consistentes – a mesma resposta à mesma situação – são o mais importante.
Responda sempre da mesma maneira. Qualquer variação aguça a curiosidade da criança em ver o que acontece da próxima vez.

Birras
A criança tem de aprender a controlar-se sozinha. Enquanto os pais estiverem por perto, é pouco provável que a criança pare com a birra.
Prender uma criança para parar uma birra é sempre o último recurso. Mas deve abraçar e pegar o seu filho ao colo com frequência e em alturas mais calmas, para que as birras não venham a tornar-se uma forma de a criança pedir contacto físico.
Precisa de manter a calma.
O objectivo é a auto-disciplina.

Controlo dos impulsos
[Depois dos dois anos], a disciplina faz-se olhos-nos-olhos, mã-na-mão e ombro-a-ombro.
As mãos da criança devem estar seguras durante as idas ao supermercado.
Controlar os impulsos é um esforço titânico para a criança.

Sempre que possível, dê-lhe uma alternativa [àquilo que lhe está a recusar].
Faça da alternativa uma oferta do tipo “pegar ou largar” e não uma negociação.
Procure a oportunidade de ajudar a criança a salvar a face [não a humilhe].
Quando o dia foi feito de “nãos”, procure alguma coisa a que possa dizer “sim”. Não significa voltar atrás.

Os pais podem ser levados a “entrar no mesmo barco”. Mas a criança precisa de aprender a modelar as suas atitudes a partir da forma como os adultos se acalmam, controlam a situação e procuram uma solução.

[Ao terceiro ano de idade] conseguem começar a reflectir sobre as suas memórias, sentimentos, crenças, interesses e pensamentos.
Se ensinarem as crianças a obedecer às regras porque elas são justas e não porque têm mais poder, os pais estão a prepará-las para respeitarem a lei, quando o poder dos pais já não for superior ao da criança.
A firmeza demonstra à criança que as regras se mantêm pela sua própria importância.

Auto-estima
A exigência excessiva, mesmo dos pais extremosos, pode arruinar a auto-estima mesmo da criança mais capacitada.
Os maus comportamentos podem ser uma forma de protesto, uma tentativa de se proteger, que está destinada a falhar.
A criança tem de saber que o erro pode ser compreendido e perdoado, mesmo que haja um preço a pagar.

Abordagem da disciplina
Uma explosão de raiva dos pais pode assustar a criança de tal maneira que a impede de aprender.
Não nos surpreende que uma criança tenha maiores probabilidades de se acalmar e escutar a mãe ou o pai quando estes baixam a voz e lhe falam muito baixinho!

A exibição “pública” das maldades da criança leva-a a concentrar-se naquilo que os outros pensam, em vez de estar a aprender a escutar a sua própria consciência.

Os danos corporais são absolutamente inaceitáveis, sejam quais forem as circunstâncias. Mas que dizer da dor passageira, como a provocada por uma palmada ou bofetada? E a dor emocional, passageira ou não – que se verifica com a vergonha, a humilhação, as críticas ou as comparações negativas com outros irmãos?
Se a disciplina é sinónimo de ensino e o objectivo é a auto-disciplina, então estes métodos são, na melhor das hipóteses, irrelevantes e, na pior, contraproducentes.

A criança desiste de tentar irritar pais que se mantêm imperturbáveis, e imita a sua calma.
Use o rosto. Tente falar devagar, ou mesmo sussurrar, em vez de levantar a voz.
Franza a testa, junte as sobrancelhas e olhe-a fixamente. Para algumas crianças e nalgumas situações isto é suficiente.

As desculpas e reparações [do mal que foi feito] ajudam a criança a conhecer os sentimentos dos outros e a respeitá-los

A força das consequências
Os pais devem encontrar ocasiões seguras para deixarem a experiência ensinar a criança. É importante que a criança aprenda que certas acções têm determinadas consequências.
Os pais têm a possibilidade de escolher as consequências que afectam directamente a criança (“vai para o quarto”), os seus pertences (“se não limpares isso, o jogo vai para a estante até à noite”), os seus planos (“esta tarde não vais ao parque”) ou as pessoas de quem gosta (“se continuares a bater-lhe, o teu amigo amanhã não vem brincar”).

Muitas das consequências podem ser ainda mais eficazes se forem apresentadas positivamente (“se me ajudares aqui, talvez tenha tempo para brincar depois do jantar”). Não se trata de suborno, mas de coisas que ajudam a criança a antecipar as consequências positivas do seu “bom” comportamento.
Os prémios ou outros mimos podem encorajar o comportamento desejado. Mas muitas acções têm pouco significado se a criança não puder aprender a fazer o bem para sua própria satisfação.
A comida é essencial, não é um privilégio que se dá e se pode retirar. As horas das refeições são momentos especiais para a família se juntar e não para discutir.
A menos apropriada das consequências é a privação do afecto.

A importância de uma frente unida
Um dos maiores desafios que os pais enfrentam é o de reconciliarem as diferenças das suas experiências passadas com as ideias que cada um tem, hoje, sobre a disciplina.
Se a criança sabe que um dos pais ficará do seu lado, contra o outro ou a irá “proteger” das medidas disciplinares impostas pelo outro, vai continuar a comportar-se mal.

Ao competirem por um lugar no coração da criança, os pais apercebem-se de que aquele que cede é recompensado com a intimidade da criança – mas apenas a curto prazo.
Quando um enfraquece a autoridade do outro, a criança sente-se confusa, culpada e insegura quanto ao facto de a disciplina parental a proteger dos seus próprios impulsos.

Formas de disciplina
Não espere que tudo isto aconteça de uma vez. Estamos perante um projecto a longo prazo e será necessário ter muita paciência e fazer inúmeras repetições.

Vale a pena experimentar:
- Avisos
- Silêncio
- Fazer uma pausa
- Repetir as coisas – da forma certa
- Perdão
- Planeamento (nos problemas que se adivinham porque não discuti-las previamente e planear alternativas em conjunto?)
- Humor (quebrar o gelo)

Algumas vezes útil (dependendo da criança e da situação):
- Retirar os brinquedos (boas razões para o fazer: uso inadequado, risco de magoar alguém, recusa em partilhar ou arrumar)
- Cancelar convites para brincar ou adiar actividades agradáveis
- Proibir tv ou jogos de computador
- Ignorar o mau comportamento (seleccionando aquilo por que vale a pena “batalhar”)
- Sair de cena
- Tarefas adicionais (para os mais velhos)
- Suspensão da mesada

Inútil:
- Castigos corporais
- Vergonha, humilhação (faz a criança negar o que fez, não reconhecendo o erro)
- Lavar a boca com sabão
- Comparar as crianças umas com as outras
- Suprimir comida ou usá-la como recompensa (os hábitos alimentares saudáveis dependem de associações positivas à comida e às horas das refeições)
- Deitar mais cedo ou fazer uma sesta extra
- Retirar o afecto, ameaçar com o abandono


Problemas de disciplina mais comuns
Estar sempre à procura de atenção – muitas vezes tem problemas em estar sozinha. A tarefa dos pais não é fazer-lhe companhia e entretê-la, mas ajudá-la a aprender a entreter-se sozinha.
Choramingar e pedinchar – os pais devem ajudar as crianças a ver que o choro não as faz terem o que querem, não lhes cedendo
Morder (bater, dar pontapés e arranhar) – [como com quase todos estes problemas] surge quando os adultos que a rodeiam começam a empolar o seu significado.
Maltratar os outros
Fazer batota

Rebeldia – frequentemente, as crianças precisam de desafiar os pais, mesmo sabendo que isso está errado. Por vezes, essa é a única forma de a criança tentar ter poder e independência.
[se estiver perante uma situação realmente grave] Capte a atenção da criança. Olhe-a nos olhos. Pegue-lhe no queixo, nas mãos ou nos ombros, se for preciso. Repita a exigência e deixe bem claro que a criança não tem escolha. É importante manter a calma.
Se a criança mantiver a recusa, não hesite um segundo em aplicar a consequência ameaçada antes.
Desobediência – quando não sabe ou não está certa de quais são as regras, a desobediência pode ocorrer.
Mentir – aprender a ser honesto é um processo lento. Aprender que a mentira não pode alterar a realidade é um passo importante no caminho para a honestidade. Outro passo importante é aprender com os pais que valorizam essa honestidade.
Lutas pelo poder
Fugir – encarem os seus sentimentos com seriedade e não os desprezem, especialmente se a criança estiver apenas a ser dramática.
Problemas relacionado com separações – o alvo da birra são os pais
Rivalidade entre irmãos – é inevitável e mais uma vez têm como objectivo atingir os pais. Deixe que aprendam a conhecer-se. O triângulo incendeia a rivalidade.
A criança mimada – é aquela que nunca aprendeu a conhecer os seus limites e nunca aprendeu a entreter-se e a confortar-se sozinha. Talvez não estejam a dar espaço suficiente à criança. Talvez não vejam claramente os limites de que a criança precisa para se sentir amada.
Roubar – [pelos 2 anos] a criança precisa da ajuda dos pais para lidar com os desejos que não podem ser satisfeitos, a aprender algumas regras relativas aos pertences de cada um, a partilhar, a esperar pela sua vez e a começar a pensar nos sentimentos da criança que foi roubada.
Linguagem imprópria – o silêncio e o exagero na reacção poderão dar força a este tipo de linguagem. É de esperar que volte a repeti-las vezes sem conta e cada vez mais alto.
Retrucar – “arruma tu!”
Birras – a birra é um problema da criança e não dos pais. A maneira mais segura de pôr fim a estes episódios é virar as costas. Quando os pais saem de cena ou evitam reagir de forma evidente, a força da birra desaparece. O passo na direcção da independência é a mais importante tarefa no segundo ano de vida.
Fazer queixa de outras crianças
Provocar outras crianças

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