Construir uma pequena tribo

Estava eu em casa de uma amiga, que teve bebé recentemente, e ao ver que se estava " a passar" com tudo o que tinha para fazer, propus cuidar dos nossos dois bebés enquanto ela dava conta das fraldas, comidas, limpezas etc... vendo que ficou apreensiva em relação a deixar o seu bebé comigo, sugeri que ela podia ficar com os dois bebés e eu dava uma ajuda, por exemplo, lavando a loiça.... ao ouvir essa sugestão ficou ainda mais aflita porque não queria outras pessoas a tratar das sua coisas, porque ela é que é a responsável pela sua casa e só a ela cabe limpa-la e arruma-la.

O resultado desta minha tentativa de constituição de uma "pequena tribo" foi que vou muito menos vezes a sua casa pois ela diz sempre que tem muito que fazer, que está tudo desarrumado etc... de facto, é complicado receber pessoas em casa e andar a servir sumos, chás e bolos quando tudo está de pernas para o ar mas podia ser muito reconfortante receber amigas que, entre conversas e quem sabe bolinhos, nos ajudam a pôr a casa em ordem. Digam lá se assim não seria muito mais simples receber visitas mesmo estando com recém-nascidos?

Penso que, à semelhança desta minha amiga, muitas mulheres sentem a obrigação de ter tudo perfeito e a ajuda externa aparece como um apontar o dedo à sua suposta incapacidade de gerir as suas casas e as suas vidas.

Qualquer mãe sabe que passar meses a fio em casa com um bebé como única companhia e resmas de roupa e loiça para lavar, mamadas mais ou menos prolongadas e fraldas para mudar como únicas actividades, está longe do nosso ideal de férias prolongadas. No entanto, quase todas as mães nos "vendem" esse imagem misto de alegria e abnegação e casa uma de nós lá se resigna às agruras e isolamento dos primeiros meses de maternidade pois queremos, no mínimo, ser tão boas mulheres e mães como as nossas irmãs, primas, amigas, colegas de trabalho etc...

Era bom ver mais mulheres a pedir ajuda, ver mais mulheres a bater com o pé e a dizer que não querem a solidão de estar dia após dia fechadas em casa com um bebé, que não gostam da sobrecarga de trabalho quando o corpo e a mente só pedem paz. Talvez assim as futuras mães se sentissem menos "obrigadas" à perfeição.

Como vivemos isolados em caixinhas de fósforos, sem o apoio da família alargada e muito menos sem uma "tribo" que onde nos sentimos integradas, podíamos começar por construir pequenas tribos de mulheres que tem a coragem de pedir ajuda e de ajudar, que partilham as tarefas domésticas e se apoiam nos cuidados aos seus filhos sem medo de admitir que a maternidade a sós pode ser um fardo muito pesado.

A todas as "mães da minha vida", desculpem pois quando tiveram filhos eu não sabia o quanto uma mãozinha podia ter sido bemvinda.

A todas as pessoas que ofereceram ajuda e eu recusei, "shame on me" por querer fazer tudo sozinha.

A todas as amigas que vão ser mães, espero estar por perto para vos apoiar.

3 comments:

  1. Tens toda a razão!
    Eu tenho tido a sorte de ter um marido que chega a casa do trabalho e ainda trata da menina e uma mãe que vive perto e que passava por nossa casa uma vez por dia para ajudar com loiça e roupa: era geralmente quando eu conseguia almoçar e lavar-me!
    Por um lado é muito bom "termos a nossa independência" e não darmos cavaco a ninguém, mas para quem tem filhotes não há nada como estar ao pé dos pais ou irmãos para dar/receber uma mãozinha...
    Por outro lado, sim, acho que já que os tempos mudaram, não há porque não criar uma "tribo" moderna: mas não te culpes por essa amiga não querer a tua ajuda. As amigas da tribo não podem ter esse tipo de cerimónia...
    Claro que não lhes vamos telefonar só para virem a casa lavar-nos a loiça, mas também não há que dizer que não quando nos oferecem ajuda...

    ReplyDelete
  2. bem-ajas por este post! UFAAAAA!!!!! lembro-me que eu só queria visitas, mimos e mesmo que a casa não estivesse impecável nunca quis saber... mas é engraçado que há outra reacção por parte das pessoas: quando nasce um bebé têm tendência a 'deixar passar um tempo porque ele é muito pequeno e estão todos a habituar-se'. Se pode ser verdade nalguns casos, noutros nem tanto.
    Beijos

    ReplyDelete
  3. olá meninas,

    realmente ter a família por perto é muito bom quando se tem filhos porque no mundo ocidental a nossa família é a nossa tribo :) Não me refiro a ter a família perto para vir almoçar de quando em vez mas sim para partilhar o dia a dia e meter a mão na massa sempre que necessário.

    Nós acabamos por sair de Lisboa para podermos ser mimados pelos avós e aproveitar o ar do campo ainda o bebé tinha 7 dias.

    Quanto a visitas, continuo a pensar que nos primeiros dias só atrapalham. Se for para ajudar são uma benção mas para pegar do bebé, dar gritinhos, dar palpites, tirar fotos e comer bolinhos? Não!!! As primeiras semanas deviam mesmo ser de paz, é tempo sagrado!

    A partir das 6 semanas (mais coisa menos coisa)as coisas já estão mais nos eixos, a mãe mais recomposta, as mamadas bem ritmadas etc... até as visitas mais barulhentas são bem vindas mas aí está a mãe sozinha em casa e já ninguém a quer visitar :(

    temos mesmo muito que aprender (ou reaprender) :)

    ReplyDelete