Comunicação Não Violenta para bebés

A forma como comunico com o mundo e com o meu bebé (verbal e não verbalmente) tem sido, para mi, motivo de análise e, por isso mesmo, iniciei um curso de Comunicação Não Violenta.

O curso tem-me permitido reflectir sobre as nossas acções e palavras quotidianas e fez-me valorizar ainda mais muitas das opções que fizemos em relação ao nosso filho.

Até agora tenho tido alguns cuidados no que concerne a comunicação com o nosso bebé. Tratam-se sobretudo de atitudes e de comunicação não verbal. Exemplificando:

- Sempre que uma pessoa pega em algo para lhe acenar à frente dos olhos, temos o cuidado de lhe dizer que não o deve fazer se não estiver preparado para que o bebé a ponha na boca ou atire ao ar. As pessoas adoram abanar as chaves em frente aos olhos dos bebés para depois dizer "não, não mete na boca, é porcaria". Eu peço sempre que o deixem meter as chaves na boca e explora-las ... os adultos ficam tão preocupados com os micróbios que o miúdo ingere que já pensam duas vezes antes de lhe mostrarem o que quer que seja;

- Desde sempre adorou atirar com coisas ou simplesmente vê-las cair. Se sei que não posso estar sempre a apanha-las, procuro um fio e amarro-as de forma a que ele mesmo se possa entreter a puxar pelo fio e voltar a atira-las quando lhe apetecer;

- Gosto muito de o ter sem fralda e tento fazer EC e por isso quando faz uns xixis pela casa fico sempre muito alegre e rio para que ele saiba que as suas necessidades fisiológicas são algo de positivo. O mesmo com o cocós que são sempre recebidos entre sorrisos. Muitas vezes vejo os pais a fazerem caras feias e gestos ou sons pouco simpáticos por causa dos odores dos cocós dos seus bebés e penso que isto pode transmitir à criança que o que está a fazer é algo de desagradável. Claro que cheira mal e que mudar a fralda é uma seca mas, não foi o bebé que decidiu que iria ter que andar envelopado numa fralda e por isso não tem que nos aturar desagradados com essa situação;

- Agora que rebola, tenta gatinhar e cai, não interfiro com os seus exercícios e controlo-me para não mostrar que tenho medo que se magoe. Custa muito controlar o impulso de ir a correr socorre-lo mas tenho esperança que assim não se assuste mais comigo do que com o tombo. Geralmente, cai, faz uns ruídos e continua com os seus afazeres (é engraçado porque faz muito barulho e parece sempre que é tudo muito urgente e muito importante. E é, para ele é!sorriso);

- Desde que começou a comer que lhe damos sólidos. Quando está tranquilo, trinca um bocadito de maçã, brinca com aquilo na boca até que deita fora ou que se engasga e cospe. Se tem alguém por perto com o nervoso miudinho que a "criança se vai engasgar" engasga-se mesmo, tosse, vomita e fica super aflito. Minar a tranquilidade da criança ao ponto de não a deixar experimentar algo para o qual foi concebida (como roer e saborear alimentos) também pode ser considerado comunicação violenta?

- Se estamos num ambiente com barulho e ele parece estar a ficar incomodado (por exemplo mais agitado, a esfregar as orelhas ou a bater com um objecto qualquer na cabeça) não esperamos que grite ou chore para responder à sua necessidade de paz. Ele gosta da agitação mas fica tão excitado que não a consegue gerir. Assim sendo, retiramo-nos com o bebé até que se acalme e se não se acalmar não voltamos. Não importa o quanto o almoço estava a ser bom ou a conversa interessante/importante. Simplesmente não sujeitamos o bebé a algo que ele não tem capacidade para gerir. Isto é muito difícil de fazer se os nossos interlocutores nos fazem o olhar de "com essa idade já se devia saber comportar" mas, na nossa opinião, tem mesmo que ser feito. já aconteceu de me distrair e só perceber que ele estava aflito quando está com a lágrima no olho mas tento estar sempre muito atenta;

- O nosso filho não tem uma chucha, biberão com papa, um boneco preferido, um objecto qualquer para o "distrair"/"entreter"/"confortar"/ "acalmar", essas são funções dos pais que com o seu colo, calor corporal, batimento cardíaco, voz e (no caso da mãe) maminha lhe asseguram que tudo está bem e que pode ter a certeza de que não necessita de chegar ao ponto em que o seu incómodo vira sofrimento (e por isso tem que chorar, gritar etc...) para que lhe seja dada uma resposta apropriada.

- A palavra NÃO foi banida do nosso vocabulário. Sempre que ele agarra algo que pode estragar ou que o pode magoar, tentamos retira-la do seu alcance e fazer com que nunca mais lhe chegue. Todos os dias descobrimos novas coisas que tem que ser "suprimidas" e sei que isto vai ser mais complicado quando ele começar a gatinhar/andar mas, até agora, tem funcionado;

Se tudo isto é sempre fácil? Não, não é. Muitas vezes estou tão cansada que me falta o discernimento para lhe perceber as necessidades ou para responder a outras áreas da minha vida. Nos dias em que ele está mais sensível e chora sem eu perceber porquê (como agora que lhe estão a crescer os dentes) pergunto-me se não seria melhor deixa-lo numa daquelas cadeiras de balanço com muitas luzes e músicas, em frente à baby-tv e com uma chucha com aero-om e um biberão de papa com paracetamol?

Enfim, penso que tudo isto é CNV com bebés mas sei também que há muitas outras coisas que posso fazer (ou não fazer) mas que ainda não nos ocorreram. Ficarei muito contente em conhecer as vossas práticas/exemplos.

P.S. - Com tudo isto, não me sobra tempo para escrever no blog :) 

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4 comments:

  1. Olá querida!
    Fico muito sensibilizada com o que escreveste porque partilho muitas das tuas opções e princípios.
    Também eu já cheguei àquela fase de "será que afinal sou eu que estou errada?" Afinal, não seria melhor deixá-la "chorar uma noite" para eu poder "ensiná-la" a dormir de seguida?
    E depois de uns segundos caio em mim e vejo que não estou a fazer sentido (ou melhor, estou a fazer o sentido que esta sociedade em que vivemos me fez pensar e crescer)...
    Realmente se reflectirmos, vemos que se ti«vermos o mesmo respeito pelo nosso filho que pelo nosso conjuge ou pais, as necessidades dele não parecem assim tão absurdas ou exigentes.Afinal, se nós tivéssemos que aguentar o nascimento de dentes sem sequer reclamar, isso é que era estranho...
    A nossa desde que come sólidos que lhe damos alimentos sem ser passados. Sim, houve 2 ou 3 engasgos no primeiro ou segundo mês, mas nunca vomitou e hoje com 13 meses come de tudo do nosso prato ou do dela (já come quase sozinha).
    Quanto ao "Não", é preciso muita força de vontade mesmo. Mas já me rendi à evidÊncia que não posso eliminar essa palavra: tento é minimizar as vezes que a uso, e tal como a Nat sugere, penso primeiro em algo positivo que possa dizer em vez de focar no negativo. P.e.: "NÃO mexas aí!" passa a "Queres mexer antes ali?"
    um beijo,
    m.

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  2. e quando é que eu vejo essa menina? estou para ver como nos vamos sair quando o nosso bebé começar a andar e a tirar tudo do sítio :) Também me vou esforçar por utilizar uma linguagem positiva.

    Aquilo da chucha e do paracetamol (ou aero-om)nunca me surgiu como uma opção mas nos dias mais difíceis, em que se conjugam dores de dentes do filho e trabalho por fazer da mãe, consigo perfeitamente compreender quem recorre a esta e outras formas de "acalmar" (ou calar) os bebés.

    beijinhos

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  3. Olá! Sou a sua mais nova seguidora.
    Que bom se todos passássemos a utilizar palavras positivas somente, trocássemos gentilezas, que aliás, está fazendo muita falta nos dias de hoje.
    É fundamental que possamos passar para nossos pequenos a importância da não-violência. É desde pequeninos que eles aprendem (e muito rápido)tudo aquilo que ensinamos. Muito importante é o exemplo, pois é a forma mais eficaz de ensinar. Como ensinar a ser gentil com os outros se nós não somos? Como ensinar a não revidar, a não ofender, a não bater se nos deixamos levar pela fúria?
    Somos os principais responsáveis pelas atitudes de nossos filhos e é bom pensarmos o que estamos transmitindo a eles.
    Adorei seu blog!!
    Beijos!

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  4. Olá Clarissa,
    obrigada pelos comentários. Andamos meio distraídos com blog por estes lados :)
    Também acredito que é muito importante comunicar de forma positiva e que somos o exemplo que os nossos filhos vão seguir. Acredito também que os bebés e crianças devem ser respeitados e que não é por serem mais pequenos que podemos exercer o nosso poder sobre eles. Sei que isto parece muito controverso mas acredito que é possível educar com base no respeito e na cooperação e não com base em limitações, regras e restrições. Acredito ainda que todo o ser humano nasce e desenvolve-se com o ímpeto de cooperar e é nisso que gostaria de apostar, no desenvolvimento da capacidade dos meus filhos para a cooperação.

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