Ouve-se por aí (Parte I)

Comecei a frequentar parques infantis que é, supostamente, um dos locais onde as crianças citadinas se divertem.

A cada nova incursão ao parque infantil fico mais e mais surpreendida com a forma como pais, avós tios e tias tratam os seus adorados meninos e meninas, pelo que, decidi começar a transcrever as frases/situações do dia.

Quem sabe se a palavra escrita tem o poder de fazer os leitores/as com filhos/as, netos/as e sobrinhos/as pensar na incongruência, violência e despropósito do que dizemos aos mais pequenos e nos efeitos que isso pode ter a longo prazo? Para nós, ouvir tamanhos disparates e observar a reacção das crianças que deles são alvo, tem sido uma terapia extraordinária.

Avó aos gritos - "Cuidado que vais cair. Olha que tu matas-te!" dois milésimos de segundo depois: "Oh meu palerma, eu não te avisei que ias cair?"

Avó para o neto que observava os outros meninos a brincar - "Vai lá brincar senão vamos embora" "Estás a ouvir? Se não vais brincar vamos embora!" (disse isto, em tom de ameaça, mais de 20 vezes em meia hora)

Avó para o neto que fazia sabe-se lá o que que ela achou não estar bem - "Se não te portas bem levas uma lambada"

Tia aos gritos enquanto dava um estalo no rosto do sobrinho - "Já te avisei que não se bate nos meninos. Vê lá que queres ir para casa!"

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3 comments:

  1. Até que enfim vejo este assunto a ser abordado. Partilho inteiramente o que aqui se escreve. A nossa bebé tem quase 6 meses e passa ainda ao lado do parque infantil mas paramos um pouco para a mãe observar os comportamentos dos mamíferos adultos e pequenos. E, de facto, os pequenos dão lições de educação aos graúdos sobre postura para terceiros e linguagem utilizada. Em relação aos adultos, apetece perguntar: mas foi obrigado por quem a vir até aqui? E qual a necessidade de gritar a previsão do que vai acontecer para depois gritar a felicidade da fatalidade que previu acontecer? Como se este tipo de poder fosse satisfatório para ganhar o dia?
    Não podemos colocar uma placa simpática dizendo "Agradecemos que os maiores responsáveis pelos pequenos mantenham o mínimo de comentários às actividades dos pequenos, limitando-se a vigiar de longe ou a participar de forma pro-activa nas suas brincadeiras? O bem estar dos pequenos agradece!"

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  2. estou a rir com o teu comentário mas a situação é séria. Fica ainda mais sério se pensarmos que os miúdos tendem a corresponder às nossas expectativas e por isso se gritamos "vais cair", eles caem mesmo!

    às vezes penso que aquelas crianças estão melhor na creche do que com os seus familiares mas depois lembro-me que as educadoras são, na sua maioria, iguais ou piores. :(

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  3. Ainda no outro dia me deparei com uma situação semelhante: uma senhora de situação humilde (não é que não aconteça noutros extractos sociais), estava na loja do cidadão com os dois filhos: uma bebé de 2 anos e um rapaz de c. de 6 anos. Obviamente a loja do cidadão não é o local mais divertido para uma criança, ainda por cima estava apinhada de gente e eles estavam confinados a meio metro quadrado ao lado da mãe. O rapaz entretinha-se a rodar um banco de parafuso, que acabou por se estatelar no chão (porque o parafuso sem-fim acabou) e a mãe deu-lhe um safanão e agarrou-o por um braço aos berros a dizer: "Já vistes o que fizestes?" O banco lá ficou no chão entre 2 pessoas que em pé olhavam com um olhar vazio para baixo, até eu o apanhar e enroscar de volta à base (para me poder sentar com a moyinha). Enquanto isso a miúdinha ao colo da mãe não parava de choramingar porque já estava farta de ali estar. A mãe ia-lhe dando avisos e ameaças mas a miúda continuava até que a mãe puxa o braço atrás (para dar balanço) e espeta com uma real bofetona na cara da rapariga, que ainda desatou a chorar mais alto...
    E é assim que se criam os filhos em Pt...

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