Sobre a vida como ela é


Ainda o bebé está a aprender a andar e já eu imagino campos verdes por onde possa correr mal abra a porta de casa. Aliás, não estarão esses campos à nossa espera desde o tempo em que eu mesma os atravessava a correr?

Quando cheguei à faculdade, em Lisboa, uma colega perguntou-me se eu queria voltar para a Maia quando acabasse o curso. Respondi que sim e ela, chocada, perguntou "O quê, queres voltar para o meio dos campos com vacas?" Na altura fartei-me de rir e expliquei que na cidade da Maia não se abre a janela e se fica a olhar para campos, verdes, com vacas. Se a pergunta fosse feita agora, responderia que, infelizmente, já são muito poucos os cantos rurais do concelho da Maia e que, por isso mesmo, quero ir rumo ao norte mas para  algum sítio onde não me faltem nem as vacas, nem as galinhas,  nem todas as outras coisas que não existem aqui, onde agora vivo!

Como é importante para mim que os meus filhos não tenham medo de sujar os pés e as mãos, gostem de mexer na terra, não saiam a correr porque viram um lagarto, saibam subir uma árvore antes de chegarem à adolescência, saibam reconhecer os pássaros, as abóboras e a Lúcia-lima. 

Como eu gostava que de o ouvir chamar estrela ao avião em vez de acenar um adeus alegre e demorado à estrela com a perplexidade de constatar que, desta vez, a luzinha é diferente das que se alcançam da janela do apartamento, desta vez, a luzinha não sai do sítio. 

O nosso filho ainda só tem 1 ano (só? com é que isto aconteceu tão rápido?) e eu já ando a matutar no ensino doméstico e no unshoolling. Aliás, ainda ele estava na barriga e já estas questões pairavam, talvez até tenham começado a "pairar" por aqui quando eu mesma andava na escola primária e sonhava em sair de lá.

Quero muito saber mais e ficar cada vez mais segura desta intuição que me leva a dizer que "eu sou a melhor professora do meu filho e não apenas a primeira".

Quero muito, também, "transitar" para um estilo de vida que me permita ter tempo e disponibilidade para mim e para os "meus", onde nascer e morrer façam parte da tranquilidade do lar e não da brancura de um qualquer hospital, onde filhos, netos, noras e genros possam ir e renornar sabendo-se em casa.

Quero  brincar e aprender sem engarrafamentos, canos de escape e "dependência" do supermercado.

Quero também fazer parte de uma comunidade física que se apoia e partilha conhecimentos, alegrias e aborrecimentos. Quero uma vida mais real e menos virtual. Este talvez seja o maior desafio de todos!

Por enquanto, transitamos para uma mente mais limpa, uma alimentação mais simples e "honesta" e actos de consumo mais conscientes, seguros de que há mais vida para alem da vida como ela se nos apresenta aqui e agora.

2 comments:

  1. É o que também quero para mim e para os meus ;)eu vivo no campo, mas ainda não num campo em que possa abrir as portas e sair a correr sentindo o vento o rosto. Mas para lá caminhamos ;) Eu gosto do Norte ;)

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  2. :) estamos no bom caminho e a apreciar cada momento :)

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