as opções que fazemos para as nossas crianças - os bons e os maus


Tenho andado a pensar que todas as crianças, sejam criadas junto da maioria ou em pequenos nichos ditos especiais, vão crescer, talvez se apaixonem, talvez nunca amem ninguém, talvez encontrem um emprego ou trabalho de que gostem, talvez trabalhem para sobreviver, talvez ganhem muito dinheiro, talvez ganhem pouco, talvez tenham filhos, talvez nunca tenham filhos, talvez tenham flhos e nem sequer vivam com eles... não temos como saber o que vai acontecer.... só sabemos que todas as crianças crescerão e tentarão ser felizes. É o que fazem todos os seres humanos, mesmo os que parecem auto-destrutivos.

Seja o que for que decidimos para as nossas crianças - escola normal, escola especial, ED, unschooling, viver na floresta ou na cidade - só pode ser decidido em função do prazer que isso nos dá, a cada um dos elementos da família e ao todo familiar, AGORA. Se é bom para cada um de nós e para todos nós, AGORA, nada mais importa.


O que eu sinto em relação a muitos dos nichos que nos aparecem como alternativas, é que as famílias que  frequentam não estão necessariamente felizes e as crianças nem sempre encontram nessas respostas a via para a expressão do seu potencial mas, os pais, agarram-se à ideia de que o que existe para a maioria é mau, acreditam que eles e os seus filhos são especiais - porque comem assim, vestem assado, só tem brinquedos desta e daquela qualidade, cantam as músicas X e Y, falam de luz e energia e auras, rotulam os seus filhos de indigo e cristal e tantas mais coisas.... - e insistem em manter uma dinâmica comunitária e familiar que não está a respeitar a sua individualidade e a das suas crianças. Quantas vezes, por exemplo, as famílias se endividam AGORA, para manter as crianças numa escola especial que as faz infelizes AGORA e não é garante nenhum de uma integração plena no futuro?


Acredito também que, quando criamos, artificialmente, dinâmicas familiares e  respostas sociais - sejam escolares ou outras - que se auto-excluem e catalogam o outro como mau, não estamos a contribuir para apoiar os nossos filhos a sentir a acomunhão que todos ansiamos ter com o todo e mostramos às nossas crianças que o mundo está dividido nos bons - nós que respeitamos a natureza e somos seres integrais - e os outros - que..... (coloquem aqui o que desejarem) comem  carne, não reciclam o lixo, andam na escola pública, não acreditam na aura, vêem futebol.... Já pensaram o que sentirá uma criança pequena sobre esse mundo cheio de gente má (mais uma vez, coloquem aqui o que desejarem...) que come carne, não recicla o lixo .....

Nenhum ser humano pode ser feliz se toda a gente à sua volta - à excepção do grupo de especiais que formam a sua família nuclear (sim, porque tantas vezes a família alargada também é composta de gente má) e amigos chegados - é mau. Nenhum ser humano pode ser feliz se sempre que deseja exercitar a sua livre escolha e satisfazer a sua curiosidade está a entrar no campo do mal e a trair os seus, os que são bons. Ou será que o grupo de cianças que AGORA são especiais nunca vai querer experimentar carne, fumar, beber, ir a discotecas, viajar de avião, deitar papeis para o riacho etc...? E se sentirem curiosidade de o fazer, a que grupo passam a pertencer? Como lidarão, no acto e à posteriori, com essa curiosidade inata, com essa vontade de transgredir que caracteriza o ser humano, como se sentirão no dia em que passarem, ainda que por breves momentos, para o grupo dos maus?  Será que ao proporcionarmos aos nossos filhos esta visão dual do mundo, estamos a preparar o terreno para a formação de jovens e adultos que acreditam que, por terem impulsos diferentes, carregam a culpa de serem intrinsecamente maus? Já pensaram no que acontece a quem carrega esta culpa? Provavelmente quem nasceu e foi criado no seio de uma família católica sabe exactamente do que estou a falar.

Acredito que podemos criar crianças que acreditam que são intrinsecamente boas e que acreditam na sua capacidade de escolha daquilo que é bom para elas e para todos os seres, independentemente de as termos em escolas especiais, escolas públicas, em escolas privadas convencionais, em casa em ensino doméstico, em casa sem currículo, desde que - nós adultos, pais, educadores, amigos - saibamos apresentar o mundo e as gentes como um leque abrangente de escolhas que podemos fazer, sem bons nem maus, sem críticas sistemáticas ao outro, apenas enfatizando que somos diferentes e nós - pais adultos, educadores, fazemos assim - AGORA, com amor, porque acreditamos que AGORA é o melhor para nós - mas há quem faça diferente. 


p.s. - não estou a pensar nos bebés e ans crianças pré-verbais :)

Gratidão ♥ *•.¸Paz¸.•♥•.¸Amor¸.•♥•.¸Sabedoria¸♥ •.¸Prazer¸.•♥•.¸Alegria¸.•♥•.¸¸ Vida

1 comment:

  1. Adorei. Tenho exactamente esse pensamento em relação a esses "nichos".

    ReplyDelete