E agora?


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Se aquilo que vou escrever não fizer sentido nenhum, a culpa é da Donzela Sem Mãos.

A dada altura da vida, toda a mulher, faz um contrato inconsciente que a afasta da mulher selvagem, do seu íntimo feminino e a faz optar por uma vida de segurança, estabilidade e, tantas vezes, próxima do arquétipo de martir que todas nós carregamos sem saber (sentimos mas não sabemos). Quase todas nós foram educadas para fazer este contrato. As poucas que se atreveram a não o fazer, desde pequenas, foram violentamente criticadas, humilhadas, postas de parte pela família e sociedade, como as ovelhas negras, as drogadas, as rebeldes, as putas, as burras que não estudaram, as preguiçosas que não gostam de trabalhar, as inconscientes que não preparam o futuro ou, mais tarde, as que vão ficar para tias por não arranjarem homem... and so on...

Pois então, andamos nós supostamente felizes, escola, compras, trabalho, compras, casa, mais e mais e mais e mais compras, marido, compras, filhos, compras e muitissimas mais compras, aqui é que é comprar, férias na praia, compras, jantares com amigos que seguem a mesma absurda rotina e mais e mais e mais e mais compras, sexo uma vez de X em X tempo (as que o tem), muito cimento em todo o percurso, pés na terra... hummmm a última vez foi .... nem nos lembramos ... até que algo acontece que nos leva a reclamar a nossa natureza selvagem. pode ser uma doença, uma depressão, um trabalho que odiamos, uma gravidez, um casamento falhado, um filho que pegamos nos braços pela primeira vez, esse mesmo filho que chora sem parar e nós sem perceber porquê.... algum acontecimento nos faz questionar a rotina costumeira acima descrita e nos faz mergulhar bem cá dentro, para junto das nossas reais necessidades, junto das nossas raízes. 

Quando mergulhamos em nós, começamos a ter um vislumbre do que está mal, do que podíamos fazer melhor, do que teria que ser totalmente alterado para que a nossa vida volte a fazer sentido. Cada uma segue o seu caminho neste mergulho ao fundo de si. Pode-se alterar a forma de vestir, os amigos, o trabalho, mudar de marido, de namorado, de casa, mudar de cidade, sair da cidade para o campo, mudar a nossa alimentação, alterar a vivência da sexualidade com o mesmo ou outro(os/as) parceiro(os/as), voltar a estudar para tirar aquele curso pois aquele é que vai ser... pode-se mudar radicalmente a forma de ver o mundo e de estar nele, mudar a forma como pensava-mos que se devia criar uma criança, mudar, mudar, mudar.... umas mudam isto tudo de uma vez, outras mudam uma coisa de cada vez, outras ainda mudam uma combinação destas ou de outras que não estão aqui. Há também as que atiram a sua intuição para trás das costas, a adormecem com antidepressivos, fazem de conta que não estão a ver nem a ouvir e ainda criticam veementemente todas as que tiveram a coragem de se aproximarem de si (estas últimas são facilmente reconhecíveis por nós e estão sempre ao virar da esquina).

Como cada é que uma de nós entra e sai deste processo? Que contratos são estes (aquelas verdades que não disse em criança, aquele curso da treta, aquele marido que não amo, aquela cidade da qual não gosto, aquele emprego que detesto, aquela família que não suporto e que continuo a visitar todos os Domingos, aquela forma deslavada de vestir que não mostra quem sou, aquelas viagens que não fiz.... pensam vocês, cada uma com os seus contratos).... ? É o que queremos descobrir para podermos seguir em frente, para não continuarmos a por a culpa nos outros, para sermos capazes de mudar. 

Se me coloco como vítima em vez de responsável pelos compromissos e contratos assumidos (ainda que tenha sido na infância) não vou ser capaz de ler e compreender tanto o que me faz falta, o que necessito fazer para me preencher.

A mudança pode ser muito dolorosa se implicar romper com as pessoas que amamos (pais, marido, amigos), se implicar deixar a cidade, país que adoramos etc... implica sair da rotina, da zona de conforto que nos afasta de nós.

O que a Clarissa não diz, nas Mulheres que Correm com Lobos, é que o modo de vida anterior, o que responde ao contrato, vem cheio de créditos e dívidas. É assim para a maioria de nós, as casas e aquelas compras todas não aparecem por magia e quando finalmente reencontramos a nossa mulher selvagem, ficamos perdidas entre o chamado da natureza e as dívidas que contraímos. Muitas vezes, resta-nos aceitar que este é o nosso percurso, só nós o podemos viver e trabalhar para pagar uma casa, um carro (etc...) que já não nos fazem falta. O que queríamos era ir para o meio do monte, ficar em casa com o filho, dançar em Kerala ou passar 21/12/2012 no Tibete mas temos que trabalhar para pagar o crédito. 

Este chinelo é que não sei como descalçar!

É por tudo isto que não escrevo mais no blog. É lido por mulheres com filhos quando isto vale a pena ser sabido por miúdas de 12 anos. Quando tiver uma filha digo-lhe isto tudo.

E agora, vou lá colar isto no blog.

Gratidão ♥ *•.¸Paz¸.•♥•.¸Amor¸.•♥•.¸Sabedoria¸♥ •.¸Prazer¸.•♥•.¸Alegria¸.•♥•.¸¸ Vida

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