Trivialidades

Hoje a minha mãe está, outra vez, a fazer quimioterapia. Já perdi a conta aos meses de quimio que já fez e a quantos lhe faltam.

O trabalho do meu pai enfrenta a maior crise financeira de sempre e não há nenhuma perspectiva de que venha a melhorar.

O meu sogro vai ser operado em breve, mais uma ameaça de cancro - felizmente, só ameaça.

Os casos de cancro na minha família materna e paterna continuam a aumentar em homens e mulheres, novos e mais idosos.

A minha vizinha teve um AVC e foi internada. Já não volta a casa. Nós gostávamos muito dela e das suas visitas. O prédio ficou ainda mais vazio. Desde que viemos para cá viver já morreram muitas pessoas e outras foram internadas.

O meu futuro profissional continua a ser um gigante desconhecido, sei que voltarei a trabalhar, por uma questão de equilíbrio financeiro, não sei quando o farei e, especialmente, não sei o que farei pois não consigo decidir do que gosto, o que sei fazer ou mesmo se gosto ou sei fazer alguma coisa.

Viver em Lisboa, num apartamento pequeno, sendo mãe a tempo inteiro de uma criança energética continua a ser tão difícil como sempre. Quem mais passe por esta aventura sabe do que estou a falar.

O Natal aproxima-se e ainda não sabemos com quem passamos a consoada e a noite de Ano Novo. Na verdade, nenhuma destas datas me interessa grandemente, sinto-me mais inclinada a celebrar o 31 de Outubro - Ano novo celta, o 11 de Outubro São Martinho, o mês da gratidão em Novembro, o 6 de Dezembro - São Nicolau, o 12 de Dezembro - Portal 12.12.12, o 21 de Dezembro - solstício de inverno e fim do calendário Maia.  Por serem estas as datas importantes para mim, preparo os seus rituais e executo-os. Mas, em família celebra-se o 25 e o 31 de Dezembro então era suposto rumar-mos a Norte, um ano com cada família ou uma festa com cada família no mesmo ano ou, ainda mais complicado, em cada uma das festas - Natal e Ano Novo - jantar com uma família e almoçar com a outra, preferencialmente, de forma alternada. Até imagino que deveríamos ter um caderninho onde apontar isto tudo, sob risco de nos esquecermos de qual refeição se faz em casa de quem, no ano X ou Y. Acontece que os meus pais são divorciados e por isso eu gostaria que inventassem 3 festividades em Dezembro, não sei como querem fazer, podem ser dois Natais ou dois Anos Novos, como escrevia acima, não me interessa, é uma mera formalidade.

Quando tomamos opções como livrar-mo-nos do nosso marido/ mulher, não contamos com as 1001 consequências a médio e longo - até mesmo muito longo - prazo para todos os envolvidos. Ainda ontem conversava com uma amiga que criticava e criticava e criticava o ex-marido. Ele irrita-a, faz com que ela "saia do sério", enlouquece-a com os seus milhões de defeitos insuportáveis. A dada altura acabei por lhe dizer algo como "já te divorciaste, agora o que te resta? Ou o aceitas como ele é ou o matas". Depois fiquei a pensar que, "aceita-lo como ele é" constitui um trabalho individual, independente da pessoa com defeitos e que poderia ser feito com eles casados ou divorciados. Aliás, que tem que ser feito tanto estejamos casados ou divorciados pois, a não aceitação, leva-nos a divórcios e vidas subsequentes cheias de amargura e críticas. Então, se vou trabalhar a aceitação, porque não tentar enquanto ainda estou casada?  Claro que esta amiga podia simplesmente nunca mais ver o tal homem mas, ele é o pai da filha dela e vai continuar a sê-lo, quer ela queira, quer não. Aceitar as coisas como são é um trabalho hercúleo. Não se trata de resistir, não se trata de aguentar, não se trata de ter paciência... já tentei isso tudo para com muitas pessoas e, especialmente, para comigo mesma, trata-se de aceitar, amar incondicionalmente e aceitar. Diz-me a experiência que a não aceitação do outro tem como origem o facto de não termos sido amados incondiconalmente e, por consequência, não nos amarmos e aceitarmos incondicionalmente. Mas, quem é que quer estar a pensar nisto tudo, não é verdade? Uma outra amiga minha até afirma veementemente que "o amor incondicional não existe" e estou eu para aqui a divagar.

Geralmente, em Novembro, começo a ficar nervosa com os preparativos do Natal. Este ano, com todas as doenças à mistura e o cerco a apertar por todos os lados "então ele não vai à escola?" tínhamos o cocktail perfeito para uma explosão emocional mas, espantosamente, estou tranquila. Escrevo "espantosamente" porque, todos os dias de manhã, acordo com energia, feliz, cheia de ideias de coisas para fazer, com planos, objectivos, com o frigorífico cheio de coisas boas, com amigos e amigas no parque, jardim, aula de dança, do outro lado da linha ou do computador.

Até agora, havia algo de pecaminoso em estar bem quando tudo à minha volta parecia estar mal mas esse mal estar, essa culpa, dissiparam-se.

Foi um percurso longo ou, está a ser pois ainda há a probabilidade de amanhã eu acordar e estar também muito mal. Mas, uma coisa está bem cimentada, amanhã posso acordar muito mal mas não é por isso que passo um "mau dia" ou adormeço muito mal. Pode acontecer uma desgraça, posso ter uma daquelas conversas pesadas com uma pessoa que amo muito - frequentes num contexto de crise, doença, solidão, divórcio - mas sacudo-me da culpa e retomo a tranquilidade. Foram muitas as vezes em que falei com os meus pais e chorei muitíssimo a seguir, fiquei de restos, triste, a sentir que deveria fazer algo mas não sabia o quê, afinal, "eles deram-me a vida, pagaram-me tudo o que tive, certo? Agora é a minha vez!". Este peso de ser a responsável pela felicidade deles estava a aniquilar-me, aliás, o peso da responsabilidade pela felicidade de tudo e todos transformou-se na necessidade de controle de tudo e tudo e estava a aniquilar-nos pois agora não sou uma só, sou 3.Ainda sinto o peito a estremecer, quando escrevo sobre estas coisas. Espero que uma dia a culpa, os remorsos, a tristeza, a frustração de não poder mudar os outros e o mundo sejam apenas uma miragem, uma observação do que eu fui, sem emoções fortes associadas.

O que eu penso e sinto, agora, é o único que posso controlar. Tudo o resto são trivialidades.

Todo este percurso foi feito na companhia de mulheres maravilhosas. Nunca antes havia estado em contacto tão estreito com tantas  mulheres.

Aninhas Penitência - Doula - Silvia Able - activista e escritora - se não fossem vocês, queridas amigas, eu era outra pessoa que não esta.

Ana Telhado - Doula - Fotografa - Não sei se algum dia vasi chegar a perceber a mulher e mãe linda que és e o quando inspiraste os meus dias e a minha vida. Sabem quando uma  pessoa transmite sabedoria a cada gesto? A Ana é assim.
http://www.anatelhado.net/pfaro/index.html

Marta Borges Pires - Psicóloga (pre) unschooler - quase 3 anos de apoio constante em presença, virtualmente, ao telefone. Estaria a do lugar onde estou se não fosse o teu ouvido, ombro amigo e a tua forma simples de traduzir para o dia-a-dia todas aquelas leituras. Na verdade, eu nem sei se, sem ti - e com umas achegas da Ana - ainda tinha uma família.
http://sandradoddemlisboa.blogspot.pt/

Sofia Carvalho - Doula - O meu apoio durante a gravidez e amamentação. A sua doçura levou-me a perceber que havia muito de verdade nas ideias estranhas que me apresentava.
http://aquihabebe.blogspot.pt/

Cristina Pincho - Doula - Uma presença constante no primeiro ano de vida do meu filho. Quando tinha dúvidas, lá estava ela, com os seus encontros gratuitos para mães. A Cristina é A MÃE.
http://www.infosermae.pt/quemsomos.htm

Antonella Vignati - Naturopata - Tratou das minhas mazelas pós parto com as suas agulhas mágicas e também com elas ajudou-me a equilibrar o meu sistema imunitário e emocional. A Antonella sabe mesmo, mesmo o que está a fazer e ainda nos explica tudo.
http://pt.linkedin.com/pub/antonella-vignati/53/955/102

Helga Castanheiro - Terapeuta Holística - Se não fosses tu ainda comia trigo e continuava doente. Foi contigo que percebi que tudo está bem como é. Quantas vezes o ouvi mas só tu me ajudaste a fazer o click, tanto pelo que dizes como pelo que és.
http://www.facebook.com/helga.castanheiro?fref=ts

Luísa Condeço - Doula - Um ano depois percebi que, de facto, não há dias maus e percebi como é que é possível alguém dizer "há sécculos que não tenho um dia mau!". E eu acreditei porque basta olhar a Luísa para ver que é verdade.
http://doulaluisacondeco.webnode.pt/luisa%20conde%C3%A7o/


Carla Silveira - Doula - Quase três anos para digerir o parto do meu filho e tudo se resolveu com uma única conversa amorosa com esta linda mulher.
http://doulacarlasilveira.blogspot.pt/

Carina Mota - Doula - se não fosse por mais nada, porque me salvaste duas vezes em dias em que eu pensava que ia morrer. Mas, é por muito mais, pelos teus sonhos, pelos teus exemplos, pela tua leveza e força.


Adriana Candeias - Homeopata - conhecem a Adriana?  Já a viram com a filha? O que é que se diz de uma mulher como esta? Grata pela WAPF, antes de te conhecer não acreditava que aquilo era possível. E pelas noites de febre do meu filho em que eu dormi porque tu estavas do outro lado do oceano a ler-me.
http://www.appliedhomeopathy.co.uk/index_files/page0005.htm

Mariana Caixeiro - Psicóloga, Homeopata - Foram seis meses duros de tratamento intensivo e eu não teria aguentado as pioras homeopáticas sem ti mas está a resultar tanto, tanto, tanto que nem consigo agradecer o suficiente. A Mariana também é dura nas suas opiniões - sempre bem fundamentadas - e não deixa margens para fugas  durante a terapia portanto resta-nos enfrentar ou admitir que somos covardes e escolhemos fugir.
http://eutratovocecura.blogspot.pt/p/o-que-faco-porque-faco-e-como-faco_15.html

Xuxuta Grave - Terapeuta Psico corporal - Basta adicionar a Xuxuta no facebook e começar a ler o que escreve para perceberem porque a sua existência teve influência na minha vida. Em consulta é muito melhor.
http://www.facebook.com/xuxuta.grave?ref=ts&fref=ts

Maria Antonieta - Terapeuta Psico corporal - Fez-me sentir partes do corpo que eu não sentia há anos e gere um lindo e inspirador projecto, cheio de actividades magníficas que só um casal dinâmico e conectado poderia construir.
http://www.enxara.com/

Catarina Pardal - Doula, terapeuta holistica - amiga espelho. Basta existires para me influenciares.
http://gravidasemforma.blogspot.pt/

Tiffany Daunt - querida amiga, como é que eu estaria aqui sem ti? E o meu filho? Acho que ele pensa que vocês são uma extensão de nós!


Há muitas mais. Tinha contado 22 mas não escrevi e agora não me consigo lembrar de todas.  Virei fazer update, hora de almoçar.

ups... Inês Duarte, Dulce Costa, Andie Meireles, Carla Morais, Isabel Penna, Juliana Mendonça, Mónica Pina, Amala, Ana Malha Valente, Ana Alpante, Anna T. Santos, Teresa Pinto, Sara Vale, Maria Pereira, Catarina Caixeiro ...... a minha mãe - Teresa Maciel, a minha tia Rosa Fernandes...  eu volto ....


Gratidão ♥ *•.¸Paz¸.•♥•.¸Amor¸.•♥•.¸Sabedoria¸♥ •.¸Prazer¸.•♥•.¸Alegria¸.•♥•.¸¸ Vida

2 comments:

  1. E para mim, este seu cantinho, esta partilha imensa tem sido uma verdadeira inspiração para mim. Grata! Eternamente grata! Abraço :)

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  2. Grata Cátia pois há sempre algo que o homeopata também cura em si mesmo. O tratamento é sempre mais recompensador quando se tem pacientes tão corajosos como tu. Obrigada por existires e pela força que inspiras.

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