Prolapso genital - o que diz a medicina em Portugal?

(in Medipédia, conteúdos de saúde)
Prolapso genital

Causas

Em condições normais, o útero localiza-se entre a bexiga e o recto, suspenso por cima da vagina, na qual o colo uterino desagua, graças à acção de vários elementos que asseguram a sua fixação. Por um lado, existe um sistema de sustentação formado por um conjunto de músculos que constituem a denominada "base da pélvis", apenas interrompido pelos orifícios que permitem a passagem da uretra, vagina e recto, que impede a "queda" dos órgãos presentes na cavidade pélvica. Por outro lado, existe um sistema de suspensão formado por uma série de músculos e ligamentos, entre os quais se destacam os ligamentos útero-sagrados, que unem a parte inferior do útero e a parte superior da vagina com os ossos que constituem a pélvis óssea. Para além disso, existe uma série de membranas e ligamentos, como os ligamentos redondos e os ligamentos largos, que contribuem para a manutenção dos órgãos genitais na sua posição normal.

O prolapso genital é provocado pela impossibilidade, por diversos motivos, dos elementos citados em desempenharem eficazmente a sua função. Por exemplo, os ligamentos e músculos da zona distendem-se e podem até chegar a romper-se ao longo do parto, o que justifica o facto de o prolapso uterino ser mais frequente em mulheres que tenham tido vários filhos, ainda que também possa afectar mulheres que não tenham qualquer filho. Para além disso, a produção de lesões dos ligamentos de sustentação num parto, devido a um acidente ou como sequela de uma infecção, pode provocar um brusco prolapso genital. Todavia, o problema desenvolve-se, na maioria dos casos, de maneira progressiva e sem causa específica, como acontece com especial incidência em mulheres que apresentam uma debilidade constitucional dos sistemas de sustentação e de suspensão. Neste sentido, a menopausa constitui um momento crítico, já que o défice hormonal próprio desta época propicia uma certa atrofia e a debilidade dos meios de sustentação do útero e dos restantes órgãos pélvicos, sendo a obesidade um outro factor favorecedor significativo.

Tipos

O termo prolapso designa a "queda" de um órgão, ou seja, a descida do mesmo desde a sua posição normal. Tendo em conta que existem vários órgãos suspensos na cavidade pélvica, é possível distinguir diferentes tipos de prolapso genital, que muitas vezes se manifestam em conjunto.

Prolapso uterino. Esta alteração, a mais comum, corresponde à descida do útero pelo interior do canal vaginal e, embora por vezes se trate de um ligeiro deslocamento, noutros casos penetra através do orifício vaginal ou até sobressai completamente para o exterior. De acordo com o nível de descida do útero, é possível distinguir vários tipos de prolapso. No prolapso de primeiro grau, o útero desce através do canal vaginal, mas não ultrapassa o plano da vulva; no prolapso de segundo grau, o útero ocupa todo o interior do canal vaginal e o colo uterino sobressai por fora da vulva; no prolapso de terceiro grau, todo o útero sobressai para fora da vulva.

Hérnias vaginais. Um outro tipo de prolapso genital corresponde à protrusão de algum órgão adjacente, como a bexiga ou o recto, na vagina, o que é normalmente designado como colpocelo. Em caso de colpocelo anterior, ou cistocelo, a bexiga pressiona o septo anterior da vagina, formando uma proeminência no interior do canal vaginal. Em caso de colpocelo posterior, ou rectocelo, o recto pressiona o septo posterior da vagina e forma uma procidência no seu interior. O mesmo ocorre com o enterocelo, no qual o prolapso afecta a parte superior do septo vaginal posterior, proporcionando a formação de uma hérnia constituída por uma porção de intestino.

Manifestações

As manifestações dependem do tipo e grau de prolapso genital. Embora o prolapso de primeiro grau não costume originar qualquer sinal ou sintoma ou apenas provoque problemas ligeiros, quanto mais grave for, mais evidente é a proeminência do útero através do orifício vaginal, dificultando ou impedindo relações sexuais e, por vezes, provocando hemorragias fora do período menstrual. As hérnias vaginais costumam ser perceptíveis como um inchaço que permanece no interior do canal vaginal e que, por vezes, penetra na vulva, sobretudo perante a realização de esforços, tosse ou risos. O cistocelo costuma gerar problemas urinários, já que limita a capacidade de distensão da bexiga, provocando micções frequentes, mas pouco abundantes, sensação de dificuldade em urinar e, ocasionalmente, incontinência urinária. O rectocelo costuma originar uma sensação de preenchimento da ampola rectal e, por vezes, provoca alguma obstipação.

Os problemas podem permanecer estacionários durante muito tempo, até mesmo anos, mas por vezes têm tendência para se irem agravando ou provocando complicações.



INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Prevenção [-]

Dado que os ligamentos e os músculos pertencentes à base da pélvis têm a tendência para se distenderem e relaxarem ao longo da gravidez e, sobretudo, no momento do parto, os partos repetidos constituem um antecedente habitual do prolapso genital. Todavia, o risco pode diminuir caso se realizem, ao longo da gravidez, determinados exercícios que fortaleçam a base da pélvis e que favoreçam a recuperação da anatomia da zona durante o puerpério, sendo igualmente bastante úteis para as mulheres maduras, cujo tónus da musculatura pubococcígea costuma ficar debilitado.

Como existem vários exercícios muito úteis, alguns deles costumam ser ensinados nos cursos de preparação para o parto. Em primeiro lugar, é preciso controlar a acção dos músculos envolvidos, o que se pode conseguir através do relaxamento e contracção dos músculos que rodeiam a vagina. Para se avaliar a força destes músculos, deve-se introduzir um par de dedos na vagina e contraí-los, de modo a que a pressão seja perceptível, já que os exercícios de contracção e constante dilatação da musculatura proporciona o seu fortalecimento, o que é extremamente útil para a prevenção do prolapso genital.

Tratamento [-]

O único tratamento definitivo do prolapso genital, independentemente do tipo de problema, corresponde à cirurgia. Todavia, habitualmente, recorre-se à cirurgia nas fases mais adiantadas do problema, quando surgem sinais e sintomas que provocam incómodo ao paciente ou interferem nas suas actividades diárias. Enquanto se aguarda pela realização da operação, deve-se recorrer à utilização de um pessário, uma espécie de anel de borracha que deve ser introduzido na vagina, de modo a sustentar os órgãos afectados por prolapso, embora se trate de um tratamento provisório, já que a sua utilização prolongada pode originar alterações locais.

A cirurgia a realizar depende do tipo e grau de prolapso genital e de outros factores como, por exemplo, a idade da mulher afectada e o seu desejo em ter filhos. Em caso de prolapso uterino grave, a única solução eficaz corresponde à extracção do útero, ou histerectomia, proporcionando a esterilidade definitiva, o que justifica o facto de apenas ser realizada em mulheres que já não desejem ter filhos. Em alguns casos, a cirurgia plástica possibilita a reconstrução da base da pélvis debilitada e a cura de um cistocelo ou rectocelo.
Bookmark and Share

No comments:

Post a Comment