Saúde Pública em Portugal - O centro de Saúde da Graça

Regra geral, uma narrativa começa pelo início mas, desta vez, vamos começar pelo fim, afinal, é uma peripécia longa mas com final feliz. Cá vamos nos:


Esta manhã fiz a minha inscrição no centro de saúde da SCML em Sapadores e fui muito bem atendida. Grávida de 12 semanas, foi a primeira vez que me mediram o índice de massa corporal, que me mediram a tensão arterial com um aparelho que atmbém mede as pulsações, que fiz um teste de glicose e, o mais importante de tudo, que fomos (eu e bebé) atendidos/as com calma, carinho e um sorriso :)


Tudo começou há 6 semanas com o teste de gravidez positivo e uma visita à médica de família – no Centro de Saúde da Graça - para mostrar a ecografia de confirmação que fiz por minha conta, num hospital privado.


A nossa médiaca de família Drª Anabela Caldeira é extremamente eficiente e dinâmica, marcou as devidas análises, uma Eco a ser realizada por volta dasa 8 semanas, informou-me deveriamos ser acompanhados/as, com regularidade, pela consulta de saúde materna a realizar às 2ª Feiras com a enfermeira do centro de saúde.


Expliquei que até meados de Fevereiro seria muito complicado comparecer às 2ª feiras pelo que a médica de família me informou que poderia faze-lo na 3ª feira seguinte sendo que assim que possível passaria a fazer o mesmo que todas as outras grávidas, indo à consulta com a enfermeira às 2ª Feiras.


No dia e hora marcados (3ª feira dia 13 de Janeiro de 2009 às 11:00 da manhã) dirigi-me ao centro de saúde para a visita à enfermeira. Esta, recusou-se a atender-me mesmo com a marcação da médica de família dizendo que (estou a citar) “as consultas são só às 2ª Feiras”, “médica não percebe nada”, “não pode marcar consultas para outros dias em a minha autorizaçao” entre outras coisas simpáticas que foi dizendo enquanto me dava uma caderneta verde onde marcou a consulta seguinte para dia 26 de Janeiro de 2009. Portanto, uma 2º Feira!!!!


Na sexta feira anterior à segunda conulta, o papá foi ao centro de saúde e perguntou quais as diligências a tomar para a consulta materna com a enfermeira . A informação que deram na recepção foi que bastava subir ao primeiro andar e colocar o “Boletim de Saúde da Grávida” (o tal verde) na porta da sala dos serviços de enfermagem.


Dito e feito, no dia e hora marcados lá estava eu para a segunda tentativa de uma primeira consulta materno-infantil com a enfermeira e segunda consulta com a médica de família. Mas, as coisas começaram mal: A médica de família faltou (eu sei que isso acontece) e na enfermagem... a saga continuou!!!!

Ao colocar o Boletim na porta dos serviços de enfermagem infringi uma regra, que continuo a desconhecer, pelo que, a enfermeira não podia começar a consulta sem um papel que estaria em falta. Enquando reclamava sobre a falta do papel, uma médica entrou na sala para entregar o processo de uma nova grávida e, às já pouco simpáticas exclamações que vinha a proferir desde o início da consulta, a enfermeira acrescentou o facto de estar “cheia de trabalho”, de “já ter 5 novos processos de grávidas num dia”, entre tantas outras coisas desagradáveis que podem ter uma enorme influência no seu dia-a-dia e bem estar mas que uma utente grávida não deveria ouvir.


Não sendo já suficiente mau tudo o que eu estava a presenciar, telefonou para a recepção para saber onde estaria o meu papel (que até hoje não percebi de que se trata) e não tendo gostado da resposta dada na recepção desligou exclamando “estúpida!!!!” (referindo-se à funcionária da recepção) Isso mesmo, uma maravilha!!!


Vamos então à nossa primeira consulta materno-infantil. Sempre sem um sorriso e com muita má vontade:

  • Informou-me sobre o que posso e não posso comer. Repare-se que já estava eu grávida de 9 semanas e que esta mesma enfermeira se recusou a dar-me qualquer informação na consulta marcada pela médica de família às 7 semanas de gravidez. Eu já sabia tudo o que esta profissional de saúde me explicou nesse dia mas mostrei-me muito interessada e sorridente quando só me apetecia perguntar algo do género “Desculpe lá, a partir das 9 semanas não posso comer fiambre nem salada por lavar mas às 7 semanas podia? Foi por isso que se recusou a dar-me esta informação antes?”;

  • Não me pesou porque a balança estava avariada;

  • Mediu-me a pressão arterial num aparelho electrónico que não consegue medir a pressão arterial muito baixa e que não mede a pulsação. Nunca vou entender porque é que um centro de saúde não tem equipamento profissional e adequado;

  • Não me fez teste de glicose;

  • Ficou a saber a minha altura porque me perguntou qual era; Logo, não me mediu e lá se foi o cálculo do índice de massa corporal;

  • Felizmente perguntou se tomava medicação, qual o grupo sanguíneo e se tinha as vacinas em dia mas, na não-consulta anterior esqueceu de mencionar que me deveria fazer acompanhar do boletim de vacinas, entre outros, e mostrava-se agora muito aborrecida por eu não ter nada disso comigo!!!!!!!!!!!!!

  • Analisada a urina, chegou o momento de marcar nova consulta e novamente começam as explamações nada simpáticas da enfermeira que furiosamente virava as páginas da sua agenda tentando encaixar uma consulta com a médica de família entre tantas outras marcações e as férias da mesma.


Conseguiu marcar consulta para dia 9 de Fevereiro, curiosamente numa das 2º feiras em que não podia comparecer. Dei essa informação na recepção e o conselho que me deram foi de que deveria fazer a marcação e depois tentar estar presente nem que fosse umas horas antes ou depois da hora marcada. Nem antes, nem depois, não foi mesmo possível. Ainda pensei em insistir na Terça-feira mas …. estava visto que não valia a pena.


Chagamos ao dia de hoje. Segunda-feira 16 de Fevereiro de 2009. Grávida de 12 semanas, lá fui eu para o centro de saúde. Confirma-se que a minha médica está de férias, marquei consulta para uma outra médica, pedi consulta com a enfermeira e, inacreditavelmente, o funcionário da recepção diz-me que para isso basta subir ao primeiro andar e colocar o Boletim (o tal verde, lembram-se???) na Porta da sala de tratamentos. Entre vómitos lá chegou a minha vez de ser atendida. Foi aqui que as coisas chegaram ao limite.


Por causa dos desmaios, bebi café logo de manhã mas isso provocou-me um enjoo enorme e quando me chamaram para a consulta tinha acabado de vomitar. A primeira coisa que fiz foi pedir um copo de água a uma das enfermeiras (por acaso não era a mesma).


Segue-se o diálogo:


Perguntei - “posso beber um copo de água? É que acabei de vomitar e...”


A senhora, com uma garrafa de água de litro em meio na mão, ainda dentro do saco de plástico do supermercado, responde imediatamente - “NÃO!!!!”


“Não, mas....” estava eu a responder - ao que a senhora acrescentou: “Não temos copos!!!”.


“Então posso beber água da torneira?” - pergunto


“Sim” responde a enfermeira “se quizer, foi lá que eu fui encher esta garrafa de água”.


Entro na sala das consultas materno-infantis - onde curiosamente estava mais uma garrafa de água de litro e meio em cima da mesa e, mais curiosamente ainda, também esta dentro de um saco de plástico do supermercado – dirijo-me ao lavatório e o que é que vejo? Mais de cinquenta copos de plástico empilhados mesmo ao lado da torneira!!! Fantástico!!!


Mas isto continua, entra a enfermeira nº 1 (a das consultas anteriores) e substitui o bom-dia por um ríspido “o que é que está a fazer aqui?”.


A partir daqui foi uma conversa de surdos em que a enfermeira me travava de forma ríspida como quem repreende uma criança em falta: “isto não é como vocês pensam e como vocês querem”, “não veio na segunda, agora não a atendo”, e um sem fim de declarações em tom insultuoso.


Expliquei da dificuldade de comparecer às segundas, do conhecimento da médica, do facto de esta ter sugerido as consultas às terças e de a própria enfermeira as ter recusado, expliquei o desmaio do dia anterior, a necessidade da ecografia esta semana. Só me ouviu quando disse que tinha consulta com outra médica ao fim do dia. Ouviu para logo se mostrar desconfiada por me terem permitido tal coisa!!!!! Já viram o descalabro!!!??? A nossa médica de família faltou à consulta das 9 semanas, marcaram a consulta das 11 semanas sabendo das impossibilidade de comparecer, a médica de família está de férias no dia da consulta das 12 semanas de gravidez até sabe-se lá quando (nunca me disseram)... entretanto a grávida desmaia, posto isto, na recepção marcam-nos consulta com outra médica e a enfermeira fica chocada por nos terem permitido tal coisa!!!!!!!!!!!Por nos terem permitido aquilo que tem que ser!!!!!!!!!!!


Nesta altura atingi o meu limi-te. Pertuntei se queria ver o meu boletim de vacinas e a última eco? Ela disse que não e eu tirei-lhe o Boletim da Grávida das mãos, disse que ia mudar de centro de saúde e saí como um furacão.


Uffa!!!!!


na recepção pedi o livro de reclamações. Deram-me o livro mas não me deram caneta. Fui ao café ao lado pedir uma caneta explicando porque a teria de levar comigo e garantindo que a devolvia. Nem sonham com a resposta. “Não posso emprestar a caneta porque depois eles ficam de mal comigo!!!. Eles conhecem-me sabem que fui eu que emprestei a caneta e ficam de mal comigo”.


Falei no copo de água recusado, na necessidade de reclamar mas a senhora tinha medo de vir a ser maltratada no centro de saúde caso elguém soubesse que emprestou a caneta que “eles” recusaram e que iria permitir a reclamação.


Perguntei se a senhora tinha noção de que isso era intimidação e chantagem? Mas a senhora parecia confusa e não percebeu como podia ser acusada de me estar a intimidar. Enfim, não conseguiu compreender que ela estava a ser a vítima, talvez vítima das próprias acepções sobre os funcionários do dito centro de saúde. Mas, seja um medo infundado ou não, não deixa de ser ilustrativo da relação dos utentes com estes serviços.


Finalmente, uma cliente do café deu-me uma caneta e lá fui escrever a minha reclamação que, pelo tamanho da história, se transformou em duas.


Entrei no centro de saúde a vomitar mas feliz e saí quase a chorar, evergonhada com os serviços públicos a que me sujeitam no meu próprio país, maltratada, nervosa, com dores de barriga e infeliz. Uma coisa é certa, a irritação foi tão grande até a tensão arterial subiu.

Eu sei que as enfermeiras não são todas assim. A minha mãe e a enfermeira Maria da SCML são exemplo disso.

Também sei que nem todos os centros de saúde públicos são maus.

O que eu sei é que:

- NUNCA uma enfermeira pode gritar comigo ou com qualquer outro utente que está a atender, mesmo que esteja cheia de razão;

- NUNCA, o pessoal médico, em horário e local de trabalho, pode negar um copo de água a um utente;

- Nunca, em nenhuma instituição pública ou privada os funcionários se podem insultar em frente aos clientes/utentes;

- NUNCA, num pais democrático, a população pode ter medo das suas instituições;

- NUNCA, uma caneta pode ser negada para escrever no livro de reclamações pois isso é o mesmo que negar o livro de reclamações;

- NUNCA, num serviço de saúde, deveria ser infligido stress e sofrimento a um utente, muito menos a uma grávida;

Infelizmente, no centro de Saúde da Graça, em pleno coração de Lisboa, tudo isto aconteceu e pouco ou nada funciona devidamente. Talvez por todos os funcionários, médicos incluídos terem excesso de trabalho? Talvez por ser uma população envelhecida que nunca reclama? Talvez as próprias condições físicas, de tão decrépitas, influenciem o humor dos profissionais?


Alguma explicação deverá ser encontrada.

Agora tenho consulta com no mesmo centro de saúde às 5:30 mas, entretanto, já fui à SCML onde fui, pela primeira vez, bem atendida.

Mas, há males que vêm por bem!!! Afinal de contas tenho que agradecer às senhoras enfermeiras por serem tão mal educadas pois, caso contrário, continuaria sujeita aos seus serviços e nunca teria conhecido um sorriso e um carinho numa consulta pré-natal.

5 comments:

  1. Olá, vou apresentar-me: Sou a Susana, tenho 28anos e fui mãe há pouco mais de 6 meses do Duarte :) Vim parar a este blog através do blog da Ana e da sua pequenita Carlota (fomos colegas de barriga)... Muitos parabéns pela gravidez! Vai com certeza tudo correr muito bem. Se forem necessárias experiências de gravidez e de maternidade estou disponível para falar sobre o que sei e passei e passo:)
    o meu email que consulto com regularidade é: s.afonso.tomas@sapo.pt. Qualquer coisa é só dizer.

    Bom, fui lendo a tua história e a verdade é que fico sempre irritada quando leio coisas semelhantes... sinto-me revoltada na minha condição de pessoa e mais a mais neste caso por ser mulher e mãe... no meu caso só tenho a falar bem do centro de saúde de sete rios onde fui e sou utente deste que fiquei grávida. Também tive direito a uma "simpatia" aquando da minha inscrição mas ao que pareceu a senhora só não engraçou comigo. Arranjou-me logo a ficha quando foi o meu marido falar com ela... Enfim. Mas tirando isso só tenho a dizer bem. Ahhh, tenho uma irritação por uma funcionária com quem tive o desprazer de me cruzar após o nascimento do rapaz (e ao que sei uma colega deixou de lá ir por causa dela...) mas espero não ter de a encarar muitas mais vezes.

    Um beijinho aos dois ;)

    Susana

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  2. Olá Susana,

    obrigada pela simpatia.

    realmente o centro de saúde de Sete Rios é uito bom. Fui lá com a Ana e a Carlota e não queria acreditar nas diferenças. Entre a Graça e Sete Rios há muitos mundos de distância!!!!!!!!!!!!!!!!

    Gosto muito do nome Duarte, espero que tudo corra bem com vocês :)

    Concluí que vale mesmo a pena reclamar. talvez o problema seja que, por ests lados, não se reclame o suficiente.

    Aqui fica a resposta que me deram na Direcção Regional de Saúde de Lisboa:

    Sent: Wednesday, February 18, 2009 9:29 AM
    Subject: Exposição que visa o Centro de Saúde da Graça


    Exma. Senhora,



    Acusamos recepção da exposição de V. Exa..

    Encontrando-se implementada, desde o dia 1 de Fevereiro de 2007, uma base de dados nacional on-line onde são registadas todas as exposições, procedeu-se ao reencaminhamento da ocorrência para Instituição visada, tendo-lhe sido atribuído o número de processo 9097726.

    Mais se informa que foi solicitado o tratamento devido e resposta à exponente.

    Com os melhores cumprimentos.



    Mónica Pereira

    (Assistente Social)

    Gabinete Jurídico e do Cidadão

    Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I.P.

    Av. Estados Unidos da América, n.º 77, 7º

    Tlf. 218424800

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  3. Olá C.

    Fiquei mega nervosa só de ler a tua descrição. É impressionante como podemos ser mal atendidos numa instituição pública. E então a negação da caneta tirou-me do sério.

    É por essas e por outras que preferi ser acompanhada no Hospital. Os Centros de saúde estão a anos luz de garantir a qualidade nos serviços prestados!!!!!

    Um enorme beijinho pra ti...

    C. Santarém!

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  4. Bem Cátia, que descrição!
    Devias enviar este teu desabafo para o Ministério da Saúde. Não se percebe como é profissionais da saúde hajam desta forma. Tenho também várias experiências deste tipo sobretudo quando frequentava o CS do Lumiar e o H de Santa Maria. Felizmente agora estou por Santarém e tenho um óptimo atendimento ao nível da saúde. Boa sorte e muita paciência.

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  5. oi,

    enviei mesmo para o Ministério da Saúde, para o instituto da qualidade na saúde, Direcção Regional de Saúde e Vale to Tejo e para mais uma data de sítios. Todos me responderam por mail ou correio.

    Não voltei ao centro de saúde da Graça mas uma amiga que lá vai às consultas pré-natal diz que há uma nova enfermeira e novos funcionários na recepção. Diz ainda que todos lhe parecem mais simpáticos!!!!!!!!!!

    Imagino que seja apenas uma coincidência e não um resultado da minha reclamação mas fico contente por saber que as pessoas da Graça vão ter melhor serviços.

    Entretanto, vou às consutas da Santa Casa no Castelo. As condições físicas são óptimas e a enfermeira muito simpática. Já a ginecologista parace ser muito competente mas de simpática não tem nada.

    Sempre que tentei perceber um bocadinho mais sobre o acompanhamento que me estava a ser dado, ela dizia que essa informação não me interessava e que era "coisa de obstetras". :(

    Infelizmente os médicos continuam a pensar qe podem ser os únicos detentores dos conhecimentos e que os "seus utentes" devem reverencia-los, nunca questionar, não saber demais e não interferir no processo terapêutico.

    Muito poderia dizer sobre este assunto mas.... não vale o esforço!!!!!

    beijinhos

    cm

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