(des)igualdade de género


Eu não quero os mesmos direitos que os homens, eu quero direitos adequados às minhas necessidades.

As políticas de igualdade de género falham onde falham todas as políticas de igualdade pois aqueles que se pretende "defender" são considerados, à priori, como excluídos dos mesmos direitos dos que estão plenamente integrados. I.e, as políticas são construídas tendo como princípio base o facto de existir um sistema social que para funcionar exclui e, como tal, necessita de criar mecanismos para re-integrar.

É fácil de perceber com os imigrantes - há países que necessitam de mão de obra e que por isso a importam, os excedentes ficam em situação de pobreza e devem por isso ser apoiados ou, em caso de pleno emprego, não há pobreza mas há integração linguística etc... A emigração dá-se pois os países de origem não oferecem condições de vida e, tantas vezes, isso acontece pois há outros países que enriquecem explorando os exportadores de mão de obra (seja minério, agricultura de massa, mercado para produtos manufacturados ou especulação financeira). Portanto, o sistema exclui e deve incluir. Creio que só o liberalismo norte americano não via isto mas até lá as coisas estão a mudar.

Se os sistema não excluísse já não faziam falta políticas de integração e igualdade.

No que se refere às mulheres a situação é bem mais difícil de perceber. As mulheres, em todas as latitudes e em todas as épocas ... desde cerca de 900 ac, época das últimas sociedades matriarcais - foram/ são excluídas.

Desde o início das sociedades patriarcais e regidas por um só deus, que os ritmos femininos deixaram de ser respeitados e os atributos do feminino passaram a ser considerados como fraqueza.

O auge terá sido a inquisição e a famosa caça às bruxas, que deu tão bons resultados que, actualmente, já nem se conhecem que "atributos femininos" são esses. Tudo o que se pretende, agora, é a tal igualdade de que vocês falam. Mulheres e homens com direitos e deveres iguais.

Acontece que nós - homens e mulheres - somos diferentes tão diferentes quando os Muçulmanos que vivem em PT e agradecem as férias de Natal que dão aos filhos mas ficariam muito mais contentes se não os obrigassem a fazer exames durante o jejum do Ramadão.

Se nos derem direitos e deveres iguais, matam os nossos atributos ciíclicos, a nossa capacidade de conceber, gerar, parir, criar, nutrir ao peito. Matam a nossa ciclicidade que, todos os meses, nos traz a vida e a morte através da sacralidade do sangue menstrual. A medicalização e instrumentalização da menarca, gravidez, parto, amamentação, manopausa são a morte dos atributos do feminino com o simples objectivo de nos fazer encaixar - alienadas e adormecidas - nos iguais direitos e deveres que todos - homens e mulheres - proclamamos como sendo a salvação.

O que se apregoa é a igualdade de direitos num sistema social que é orientado para a integração dos atributos masculinos, logo que exclui à prioiri. É como querer que os Muçulmanos celebrem o natal em vez do Ramadão só porque lhes são dadas férias de Natal.

É por isso que gosto mais de falar em equidade - google it if you dont knoe what i'm talking about

Eu quero ser mulher, plena, saudável, conhecedora do meu corpo, do meu ciclo. Quero ser a menina que pode descansar durante a morte cíclica que representa a menstruação, em vez de ter que tomar um qualquer medicamento para poder ir para a escola. Porque é que uma menina com dores menstruais não pode ficar em casa, aconchegada no colo materno, perto da avó, da vizinha das outras mulheres da sua "tribo" a receber o amor de que necessita? Será que a igualdade de direitos (educação) e de deveres (trabalhar para contribuir para o mercado) é mais importante do que o respeito pela nossa natureza, o respeito pelo nosso corpo? Eu sou mulher, não sou um homem, não consigo ser igualmente produtiva em todos os dias do mês. Eu tenho direito a parar quando o meu corpo assim mo pede.

Eu quero engravidar e ter tempo para contemplar a vida, para dormir a sesta, conversar com o meu bebé, senti-lo, conhece-lo a partir do meu ventre que incha. Eu quero partilhar entre mães, conhecer os mecanismos do meu corpo durante o parto e empoderar-me ao parir o meu filho, sem intervenções desnecessárias, sem medo, com prazer (ok, a parte do prazer pode ser devaneio. aceito). Não quero passar a gravidez a trabalhar, a correr em todos os sentidos, a tomar medicamentos para as dores, as infecções, as inflamações causadas pelo stress. Não quero um curso de preparação para o parto em que me ensinam a respirar para não gritar, para facilitar o trabalho dos Srs doutores de bata branca,. Eu quero gritar, uivar, enlouquecer, se assim me apetecer pois faz parte da minha alma feminina. Para quê sofrer e calar? Para garantir o meu direito de acesso ao mercado de trabalho? Eu fico grávida e doente, mutilada durante o parto, para ter direito a ser igual a um homem? Eu não sou um homem, o meu ventre carrega a vida. Tu foste carregado/a no ventre de uma mulher que também não pôde parar, em nome da igualdade!

Os meus seios, incham de leite que a mecanização martiriza com bombas, que a ciência seca com medicamentos e injecções. O meu leite é o leite que nutre os meus filhos que lhes garante uma vida saudável. Porquê negar um direito fundamental de qualquer mamífero? Em nome da igualdade no mercado de trabalho? Eu quero ser uma mulher que não se envergonha dos seus seios, tenham eles o tamanho e a forma que tiverem, tenham eles alimentado 0 ou 20 crianças.

Eu quero ser mãe a 100% durante os anos em que os meus filhos necessitam de mim e ser trabalhadora a 100% durante os anos em que me posso dedicar ao trabalho. Não quero ser esquartejada entre a culpa de ficar em casa a cuidar dos filhos e perder a carreira profissional e a culpa de ir trabalhar e entregar os filhos a terceiros para criar. Eu não sou um homem, emissivo, que com uma ejaculação pode gerar milhares de crianças. Eu sou uma mulher, concebida para gerar, parir e criar uma criança de cada vez (ok, 2, 3 em caso de gémeos) e durante um período longo de tempo.

Eu quero garantir que cada um recebe o que necessita, quando necessita. Não me interessa que todos sejamos tratados de forma igual. Nunca a igualdade gerou felicidade.

Infelizmente, de tão alienadas, escravizadas que fomos, nós mulheres, não conhecemos as nossas necessidades e as que as conhecem são tantas vezes acusadas sendo os seus primeiros carrascos, outras mulheres que se dizem activistas pelos direitos das mulheres, em nome da igualdade.

Dedicado ao homem que me acompanha no percurso de descoberta do feminino.
Imagem - Excelsia by Sonya Stratfull


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