Qual o papel dos pais no desenvolvimento dos seus filhos?


Qual o papel dos pais no desenvolvimento dos seus filhos?

Num primeiro relance há algo de errado com o título deste post – Qual o papel dos pais no desenvolvimento dos seus filhos? – é um papel essencial , fulcral, determinante… diriam vocês. Não, é um papel acessório, dirá qualquer pessoa que analise conscientemente as práticas dos pais das sociedades ocidentais em pleno século XXI.

A família nuclear deveria ser a instância de socialização primária e deveria ter um papel vital na educação das nossas crianças, afinal, os pais são as figuras centrais das vidas dos mais pequenos. No entanto, ao contrário do trabalho de educadores e profissionais de saúde, o papel dos pais tem merecido muito pouco reconhecimento por parte da nossa sociedade. 

Por ser um “trabalho sem status, sem salário, sem pausa para café, sem horário para almoço, sem férias, sem chefias, sem incentivos para a formação”, por não fazer parte da “comercialização generalizada de todas as relações sociais” o exercício da parentalidade foi desprovido da sua importância secular, a relação mãe/filho foi invadida, a intimidade familiar devassada, pela institucionalização e profissionalização  dos cuidados e saberes referentes à infância.

Assistimos, de braços cruzados, a um movimento político e social que nos instiga a considerar que instituições de ensino acreditadas pelo governo (e muitas vezes desacreditadas pelas suas práticas) e profissionais de saúde formados/as pelas melhores universidades (mas raramente informados sobre as especificidades de cada bebé) serão os melhores cuidadores e decisores da vida e futuro dos nossos filhos, independentemente das necessidades específicas de cada criança e das crenças e escolhas dos seus pais. 

Assistimos de braços cruzados à normalização das práticas parentais, à normalização das necessidades dos nossos bebés. Tomamos o que é politica e socialmente instituído, aqui e agora, como dogmas e não temos em conta que noutros contextos e noutros tempos existem e existiram outras formas de ver e pensar a parentalidade, outras formas de actuar com os bebés e crianças.
No contexto em que nos inserimos, idealizamos e embelezamos, nomeadamente através das artes a relação mãe/filho mas, pouco a pouco, retiramos a ambos toda e qualquer possibilidade de espontaneidade e de intimidade através, por exemplo, da tecnicização do parto, da amamentação, do amor e carinho. Tudo pertence agora ao domínio do racional (mesmo sabendo nós do Erro de Descartes) e aos tecnocratas pertence.

O parto foi instrumentalizado e profissionalizado para todas as mulheres e bebés e em toda as circunstâncias e a intervenção profissional e química parece ser mais importante do que a própria parturiente, as suas contracções e o seu bebé.

A amamentação passou de um acto espontâneo e natural, regido pelas necessidades do bebé, a um sistema de alimentação regido por tempos das refeições dos adultos trabalhadores e responsáveis e tabelas de percentis às quais os nossos bebés tem que se adaptar nem que para isso seja necessário “administrar” substitutos de leite materno que os façam crescer em concordância com as expectativas criadas por quem? Pelas empresas, com fins lucrativos, que inventaram e comercializam esses mesmos substitutos.

O amor e carinho que damos aos nossos bebés, está agora balizado por especialistas da intimidade alheia que nos dizem quando, durante quanto tempo e como podemos e devemos mimar os nossos filhos, andar com eles ao colo, dar-lhes atenção e/ou dormir com eles.

Actualmente, valorizamos, acima de tudo, a independência dos nossos bebés, crianças e jovens mas, desde a nascença, suprimimos – em nome do conhecimento científico e profissionalizado - as suas maiores expressões de autonomia e independência, isto é, esquecemos que ninguém conhece melhor as necessidades de alimentação e sono de um bebé do que o próprio bebé. Assim sendo, desde o primeiro dia de vida, passamos aos nossos bebés a informação de que as suas necessidades mais básicas - mamar e dormir - estão erradas e forçamos uma adaptação aos ritmos, tempos, quantidades e outras regras instituídas pelos profissionais de saúde como se estes se adaptassem a todos os bebés em todas as circunstâncias.

Na sociedade do conhecimento, não imaginamos uma criança não instruída mas esquecemos que as crianças começam a aprender muito antes de integrarem as instituições de ensino escolar e/ou pré-escolar e que continuam a aprender nos tempos em que não estão entregues aos seus cuidados. 

Ninguém parece conhecer melhor as necessidades dos nossos filhos do que os médicos, pediatras, enfermeiros/as, educadores/as, professores/as e outros profissionais pagos para nos dizerem o que devemos fazer todos os dias, a cada minuto, não deixando qualquer espaço à espontaneidade, à aprendizagem intra-familiar. Só o facto de estes profissionais serem os detentores da verdade, os gurus pelos quais nos devemos guiar para que os nossos filhos sejam bem sucedidos na vida (independentemente do que isto possa significar) explicará o facto de deixarmos um recém-nascido, indefeso e práticas como deixar um recém-nascido a chorar, sozinho, dentro de uma jaula (a que chamam berço). 

E não se pense que a importância das relações familiares se verifica apenas em famílias abastadas. Vários estudos demonstram que, dos 0 aos 3 anos, o exercício efectivo da parentalidade (proximidade, tempo em conjunto, desenvolvimento de actividades conjuntas, supervisão, participação nas actividades do dia-a-dia) e uma ligação forte mãe/filho, são determinantes, por exemplo, no estádio de desenvolvimento da linguagem em crianças de 4 e 5 anos e na prevenção de comportamentos de risco em adolescentes, independentemente do nível sócio-económico dos mesmos. 

Os nossos bebés não necessitam de máquinas que nunca falham mas de amor mesmo que venha de pais que cometem erros

Os nossos filhos não são mais um elo na cadeia de relações laborais em que nos movimentamos e, por muito valor que tenha o trabalho, a técnica, o conhecimento científico, ninguém sabe mais sobre um bebé do que os seus pais.


Se fosse verdade que um bebé só sobrevive se tiver um obstetra, um pediatra, se alimentar com regras rígidas e suplementos, se dormir sozinho, frequentar um jardim de infância e escola, for "domado" para não ser manipulador, mimado etc... o ser humano nunca teria chegado até aqui! 

Se continuarmos a dar aos nossos bebés coisas que substituam a intimidade como cadeiras de baloiço e carrinhos de passeio em vez de colo,  leite em pó em vez de leite materno, chuchas em vez de mama, televisão em vez de atenção e se continuarmos a acreditar que todas estas coisas são melhores do que nós (mães e pais) talvez sejamos, em breve, uma espécie em extinção!







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