bolas, morreu a Liedloff! queria escrever algo bonito, importante, suficientemente capaz de descrever o que sinto e o quão ela é importante para mim... mas não consigo.
Há tanta coisa que não lhe disse e que não lhe perguntei.... tanta.... ia telefonar este mês... como é que nem sequer soube que ela estava doente?
Porque é que alguém, tão importante para mim, esteve doente durante meses a fio e acabou por morrer sem que eu soubesse?
Não gosto do mundo globalizado, a minha alma não consegue compreender as distâncias físicas que nos separam do que o entendimento aproximou. Não dá para para lhe explicar que a Liedloff vivia lá do outro lado do oceano, que tinha 84 anos, que estava doente e que já não vamos falar com ela, nem abraça-la, nem agradecer-lhe nem, nem, nem....percebem? Não tenho como lhe explicar que, apesar da influência que teve na nossa vida, não está aqui e agora, não é família, não é de perto... é desconhecida e está lá, do outro lado do mundo.
A mensagem que ela transmitiu mudou a nossa forma de estar na vida, mudou o nosso olhar sobre o mundo, trouxe novos amigos, novas vivências e experiências. Não se trata de mais um livro, de mais um conjunto de textos e letras... é uma pessoa que se atreveu a sonhar e a sentir o mundo para além da norma, que nos provou que outra forma de ser e estar é possível. É uma pessoa importante, que influenciou o nosso dia-a-dia, que está presente nos mais pequenos gestos, que está na base das mais presentes amizades mas... é desconhecida, estava doente e morreu, lá longe, sem nós sequer o sabermos! É assim que funciona o mundo globalizado: conhecemos gente a mais, que está longe demais e comunicamos com artefactos demais e rápido demais quando o que procuramos é o amor, a estabilidade e a intimidade que alimentam a alma.
Para a alma, nada disto é explicável. São duas velocidades demasiado distintas. A alma tem tendência para o apego, prefere relacionar-se a distanciar-se, emociona-se e cresce com as pessoas concretas que surgem nas nossas vidas, com a intimidade e as experiências. A alma alimenta-se dos actos significativos do dia-a-dia, está permanentemente ligada ao que está a acontecer, alimenta-se do que já existe. O trabalho da alma exige paciência e permanência. A alma não se move depressa, não viaja à velocidade da luz, nunca vai para longe, não tem consciência cósmica, não quer saber se quem sentia perto e presente, todos os dias, em cada pequeno gesto do dia-a-dia, afinal estava do outro lado do mundo, doente, e já morreu.
Bolas, a Liedloff morreu! Morreu uma amiga que contribuiu de forma decisiva para construir o meu universo de valores e vivências.
"se suportarmos a tensão criada entre dois mundos em colisão, uma solução inesperada acabará por emergir da abertura da alma criada pela tensão. Se formos capazes de suportar momentos de caos e confusão, surgirá algo verdadeiramente novo" (Tomas Moore)
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