Há vários dias que estamos fora de Lisboa, entretidos entre visitas a familiares, passeios e dias de trabalho intenso.
Estamos todo o dia rodeados de adultos calorosos e que bem que sabe ter companhia.
Mas os tempos são de insegurança, a cultura do medo está instalada e isso sente-se e verbaliza-se a cada minuto:
medo de que as crianças não cresçam saudáveis: "ainda mama, vai ficar doente"; "não bebe água, e se fica desidratado?"; "não come o amarelo do ovo? mas faz-lhe tanta falta? e agora, as vitaminas?"; "Só come arroz? e as proteínas?"; "tens que comer frutinha, come! come! come!"; "não dorme de tarde?"; "Só dome isso?"; "como é que dormiu tantas horas? e agora, não vai dormir de noite!"; "tem que dormir de noite senão fica doente"; "não tem uma bicicleta maior, vai ficar com dores nas pernas"...
medo da relação das crianças com o meio: "cuidado que cais"; "olha que te engasgas", "vais fazer dói-dói"; "isso magoa"; "não o deixes sozinho que o podem raptar"; "e se vem alguém o leva? Hoje em dia nunca se sabe"; "cuidado que está frio, constipa-se"; "olha o sol, fica doente"; "já é de noite, não pode ir para a rua"; "está muito calor, não pode andar a rua"; "calça os sapatos, o chão está frio"; "não pode andar sem sapatos, ainda se corta"; "ai, a faca não"; "cuidado com a tesoura"; "olha os dentes do garfo, ainda se espeta"; "ai o caroço, e se ele o engole?"; "estás a transpirar, não corras tanto"; "olha que ficas sem fôlego de tanto rir, isso faz dor de barriga!"; "cuidado que entalas os dedos na porta"; "copo de vidro não que ele cai, parte-o e corta-se"; "vai sozinho, e se ele se perde?"; "não o ouço, e se fugiu?"; "não o vejo, já foi para rua"; "ai, meu Deus, os carros"; "olha que ele atravessa a rua"; "estás molhado, vais ficar doente"....
medo dos nossos semelhantes: "não posso deixar aqui a carteira porque ainda a levam"; "mataram uma mulher na praia de Leça"; "roubaram o telemóvel da X. na praia de Angeiras"; "hoje em dia não se pode confiar em ninguém,"; "anda meio mundo a enganar outro mundo"; "as pessoas são uma coisa pela frente e outra ..."; "como é que fazem mal a crianças tão pequeninas?"; "e de pensar que há quem rapte a faça mal a estes pequeninos"; "não deixes a porta aberta que podem entrar ladrões"; "cuidado com o computador que ainda to levam"; "não deixes o carro aberto, que ainda o roubam"...
medo de escolher: "a comida está toda contaminada e vai ser cada vez pior", "a comida biológica é toda igual à outra, a terra é a mesma. está tudo contaminado"; "até a comida biológica tem as bactérias, deu na televisão"; "já não há solução para isto, vai ser sempre a piorar", "não há empregos, nem vai haver"; "só querem o nosso dinheiro, nada presta para nada"; "se continuas a ser só mãe, quando quiseres trabalhar vais lavar escadas"; "estás a ficar velha, depois ninguém te quer";
Ouvindo estas e outras coisas, vou dizendo a mim mesma que não faço parte desta cultura do medo, vivo nela mas não a aceito como fazendo parte do meu modo de vida.
Hoje, ao aceder ao mail, encontrei este texto maravilhoso do Scott Noel, muito ao encontro do que acredito ser necessário para viver em paz - "de forma não violenta, incondicional e criativa" - independentemente do contexto em que nos movimentamos.
"Blind faith is believing what others tell you, but
*authentic faith* is trusting your Inner Guidance,
a.k.a. intuition, inspiration, instincts, or gut
feelings.
For this style of parenting to work, you have to
(a) stay checked in with your Guidance, (b) follow
it, and (c) accept that it takes *time* for inner
changes to be reflected in outer conditions
(including children's behavior).
Fortunately, you don't have to wait for those
outer changes. You can practice the Art of
Unconditionality and enjoy parenting now!"
http://dailygroove.net/faith
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