Desde que fui mãe, conheci n mães, umas mais, outras menos, experientes do que eu - e isto, apesar de parecer estranho, é independente no número de filhos.
Muitas delas são idealistas, ou baseiam-se em alguma ideologia para alicerçar a sua identidade materna - e de mulher - outras, procuram, na teoria, a melhor forma de criar o mais perfeito ser humano possível.
Poucas, vão experimentando o que mais sentido lhes faz de forma a gerir o quotidiano com tranquilidade e alegria.
Destas últimas, nenhuma pode dizer que não tenha caído - varias vezes - na armadilha da preocupação, comparação, expectativa, nem que jamais se tenha dedicado à inútil analise de cusalidade do tipo " nasceu assim vai ser assado", " "come - ou não come - disto vai ser aquilo", "depende agora para ser independente depois", "é mais ou menos x ou y do que o filho da Maria da esquina porque eu fiz/sou/dou desta e daquela maneira e ela não" ... e por aí a fora.
Isto leva, quase sempre, a um angustiado " ohhh coitadinha de mim e da minha prole" ou a um soberbo " ohhh coitadinhos de todos eles, que boa que eu sou".
Vezes há em que o " que boa que eu sou" se disfarça de "que maus são todos eles/elas".
Há medida que o puerpério vai passando, arreigam-se as certezas, as diferenças, consolidam-se os conhecimentos teóricos, desperdiçam-se milhares de minutos em quezílias, leituras, visionamento de filmes, encontros de pares e tantas outras actividades sobre as nossas crianças que pouco mais fazem do que afastar-nos das nossas crianças.
Um dia, e esse dia chega sempre, a criança que nasceu de parto perfeito, foi ao medico "assim", foi amamentado, fraldado, adormecido, alimentado "assado", acorda e diz "EU SOU", " EU QUERO" e a mãe percebe que aquele bebé perfeito - fruto da mãe perfeita - plufff, desapareceu!
Ficam "apenas" dois seres humanos perfeitos na sua imperfeição, como todos os outros, independentemente da forma como nasceram, mamaram, comeram, dormiram...
E, aqui começam os verdadeiros desafios:
Que relação se construiu com a criança?
Que díade formamos - com cada um dos nossos filhos - quando nos despimos de teorias, certezas, expectativas e quezílias com o mundo?
Estamos preparadas para ser mãe da criança real, a que está aqui e agora?
Tenho encontrado várias mães frustradas, mergulhadas na incompreenção pois o bebé que "nasceu na Índia, num parto sublime, agora nem sequer mama" ou o bebé que "Mamou em livre demanda, dormiu sempre com a mãe... chega aos 3 anos e recusa ir para a escolinha"... não foi para isto que se esforçaram tanto pois tão?
Tanto investimento num parto na água, tanta guerra com o "sistema" contra as vacinas, contra o açucar, os berços e os gadgets, tanta dor de costas do sling e pano não deviam ter como resultado um filho mais seguro, saudável, dócil, educado e independente do que os outros?
Racionalmente responderás que "não, claro que não" mas, desafio-te a olhares mais fundo e tentares descobrir que sentimento ou sentimentos, que medos, culpas, inseguranças podem estar a ser o verdadeiro combustível das tuas práticas? O que necessitas provar e a quem? Contra quem lutas? Por que lugar na organização social e familiar te sacrificas? Que vazio veio preencher esse filho ou filhos?
Só respondendo a estas - e outras - questões, com honestidade, podemos criar com amor em vez de criar com sacrifício.
O sacrifício é independente da criança que temos nos braços, é um modo de vida a que nos agarramos - sem perceber - que nos permite sentir valiosas e úteis, que nos conferem o lugar de boa mãe, boa esposa, boa filha, boa mulher.
Se há uma mártir - a que se sacrifica - há um carrasco. Quando nos mantemos no sacrifício não podemos ter como expectativa um ser humano equilibrado pois estamos a criar um carrasco.
Há quem veja o carrasco estampado no rosto do recém nascido que não mama, no bebé que morde a mãe, na criança pequena que grita sem razão, no menino ou menina mal educado e agressivo, no pré-adolescente indecifrável e problemático ou que rejeita a identidade da mãe, as suas crenças e práticas.
A criança sente a nossa ambivalência, o nosso martírio e sacrifício não expresso e sacode-nos até que o possamos ver ou até que a relação parental expluda, libertando-nos do sacrifício.
O teu carrasco, onde está?
Gosto mesmo mesmo muito deste texto. sinto que tenho levado uma eternidade a libertar-me deste sentimento de sacrifício, ou a busca das soluções perfeitas, e tantas vezes "o " que boa que eu sou" se disfarça de "que maus são todos eles/elas"", e de tantas estratégias que no fim não nos aproximam, a mim e ele. Tem sido muito do que te leio a aproximar-me do "experimentando o que mais sentido lhes faz de forma a gerir o quotidiano com tranquilidade e alegria", ainda que só pensando em mim à meio ano, um ano, é que perceba como estou diferente. Mas disto estou.te eternamente grata.
ReplyDeleteBem, acho este texto tão mal escrito que nem sei bem por onde comentar. Que péssimo exemplo para mães e pais lerem, basicamente o que dizes é que não vale a pena esforçarmos-nos nem lermos livros, vamos todos só parir os filhos e não investir nenhuma energia emocional neles. Comparar um recém-nascido a um carrasco?! Tens a certeza que és mãe? Muito mau, não concordo em absoluto e acho que todo o blog transmite um pessimismo extremo, uma pessoa até fica deprimida depois de vir aqui. Inês
ReplyDeleteOlá Inês, que bom que alertas para a importância do investimento emocional. É só memo o investimento emocional que importa, com ele chegam todas as práticas "corretas" tanto para a mãe como para o bebé. O que tantas vezes acontece é que a teoria, a necessidade de fazer tão bem como a mãe x ou melhor do que a mãe y dominam-nos e perdemos de vista a criança.
ReplyDeletePor favor, mamtem-te afastada do blog, temos a possibilidade de só ler e comentar o que nos transmite paz e felicidade, já viste que sorte a nossa? :)
Alexandra,
ReplyDeleteEstes dois links ajudaram-me muito:
http://sandradodd.com/choice
E este sandradodd.com/haveto
ReplyDeleteO ano passado, a Sandra Dodd lançou o desafio de escrevermos e oensarmis sobre a mulher mártir. O Natal é uma boa altura para observar as mulheres da família e perceber de onde nos vem a tendência para o sacrifício :)
Bem vinda a esta casinha, Carla. É sempre bom saber-te por cá, tantos anos depois :)
ReplyDeleteAcima esqueci do link para a pintora. Aqui fica
Agora é que é, o link
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