Pequenos factos da minha maternidade

Em jeito de justificação:

Facto nº 1: desde que a criança nasceu que perdi a capacidade de articular pensamentos complexos, mais ainda de os transformar em texto (isto passa???);

Facto nº 2: mesmo que ainda fosse capaz de grandes textos filosóficos, agora a vida baliza-se pelos ritmos de sono dele o que não me daria tempo para transpor tais pensamentos para aqui. Este deve ser um dos factos mais badalados da maternidade: não consigo fazer nada de fio a pavio e ainda me estou a habituar à ideia de que vai ser assim durante muito tempo.

Restantes factos (e argumentos):

A minha principal aprendizagem foi que viver o momento presente, estar aqui e agora é muito, mas mesmo muito, difícil. O meu filho exige de mim essa presença e entrega a 100%, com ele não posso dar só 70% e reservar os outros 30% para o mundo dos sonhos. O seu olhar exige o meu a 100%, sem partilhas, sem distracções. É tudo ou nada e isso custa muito a aprender;

Com ele percebi que sou menos egoísta do que pensava. Menos egoísta pois estou 24 horas por dia com este ser. Já lá vão 13 meses e continuo a ama-lo como no primeiro instante (ou mais do que no primeiro instante);

Também percebi que sou mais insegura do que alguma vez imaginei. Insegura porque me deixo abalar facilmente por dúvidas quanto às escolhas a fazer na e para as nossas vidas, porque deixo "conselhos" alheios abalar as minhas, poucas, quase certezas;

Ainda há dias em que acordo como se a minha vida fosse outra que não esta, como se ele não estivesse aqui;

Sinto-me demasiado cansada para estar com outras pessoas e demasiado perdida para estar sozinha com ele;

Nunca a minha memória esteve tão má como agora. Tudo é passível de ser esquecido;

O que antes poderia ser gravíssimo, agora tem importância relativa porque só ele me preocupa;

Apesar da alegria de o ver crescer sinto a tristeza de ver o "meu bebé" partir. O bebé que vejo nas fotos já cá não está. Ele muda tanto da noite para o dia que parece que me levaram o filho e trocaram por outro;

Saudades da barriga? Continuo a não achar piada nenhuma à gravidez;

Há alturas em que penso como seria bom fazer um destes sem cocós, xixis, arrotinhos e choros!!! Só sorrisos e soninhos... que bom que era!!!!!

A estranheza de me ver noutra pessoa é tão grande que às vezes se torna insuportável. Olho para ele e vejo a minha avó, a minha mãe, vejo-me a mim e o meu peito não consegue conter a emoção causada por tal constatação;

Nunca ninguém dependeu de mim de uma forma tão total e absoluta o que gera um sentimento demasiado avassalador para se conseguir expressar em palavras. Aliás, nunca ninguém dependeu de mim (ponto final parágrafo).

Conta-se pelos dedos - de uma mão - as noites mal dormidas. Estou sempre a ver quando começam as agruras nocturnas da maternidade;

Se ando com ele no sling todo o dia, ficam-me as costas num 8, se o deito sozinho ou o levo no carrinho, dói-me a consciência. Tenho tentado resolver esta questão com massagens e a ajuda de um osteopata;

Amamentar não é tão difícil como eu pensava nem tão fácil como se diz. Continuamos em amamentação livre e exclusiva e sim, é muito exigente, muito cansativo, muitas vezes dá vontade de recorrer ao biberão e ao relógio (pelo menos para ir dar um passeio sem o apêndice) mas foi uma escolha minha, continuo a acreditar que é o melhor e por isso sigo em frente apesar de, por vezes, estar esgotada;

Daqui a dois meses já não vou estar com ele 24h/dia e isso dá-me ainda mais vontade de o ter juntinho a mim o tempo todo. Não sei como vou conseguir deixa-lo em casa para ir trabalhar;

Há dias em que me apetece deixa-lo a dormir e ir de férias. Já os meus gatos gostariam de o mandar de férias;

A minha casa está mais arrumada do que seria de esperar com um bebé (dizem os outros, ou melhor, alguns) e muito mais desarrumada do que eu gostaria;

Manter esta criança viva, saudável e feliz é a maior responsabilidade que já tive e mesmo assim há alturas em que sinto que não ando a fazer nada;

Se não fosse a partilha constante com outras mães, não teria sobrevivido às minhas escolhas;

Se não fosse o pai maravilhoso do meu filho, não poderia tentar ser a mãe que quero ser.

2 comments:

  1. Acho que quem é Mãe te compreenderá :)

    É a melhor coisa do mundo mas também uma das mais difíceis (senão a mais).

    É normal o sentimento de "confusão" no pós-parto bem como a falta de memória. Os americanos até lhe chamam "mummy brain". O que acontece é que o teu cérebro está a absorver e a desenvolver muitas competências novas (isso em conjunto com o cansaço físico e psicológico que uma maternidade recente trás).
    Aos poucos vai passando e já li estudos que sugerem inclusivé que depois da maternidade a nossa mente vai ficando mais ágil pois ganhou essa capacidade de lidar com muitas mudanças e novas competências num contexto que nem sempre é fácil.

    Beijinhos

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  2. Que desabafo!
    Sim, o cérebro em papa passa, mas demora (eu ainda não estou a 100%!)
    Sim, nos primeiros tempos era impossível fazer algo por mais de 45m porque o ciclo dela não era maior que isso e eu não conseguia deixá-la sozinha a chorar ou por-lhe uma chucha para ir fazer outras coisas. Quando comecei a usar o marsupio/pano consegui fazer muito mais coisas porque ela ficava mais tempo a dormir ou sossegadinha. Se ainda estiveres por casa, sempre que estiveres cansada, deita-te com ele: sempre estão juntinhos e não dás cabo das costas. Eu tinha montes de dores nas costas nos 1ºs meses: acho que era o corpo a voltar ao normal.
    Obviamente que ter filhos altera as nossas prioridades! Ainda bem que a Natureza nos deu esse instinto ou já estaríamos extintos :P
    No entanto, tenta de x em quando, tirar 1 tempo para ti: para relaxares, para voltares por algum tempo a ser a Want e não a "mamã". Se conseguires, tira algum leite, e deixa-o com alguém da tua confiança: pai, avós, tias. A primeira vez que o fiz senti-me tão estranha: estive ausente 1h aos 15 dias da moyinha. Resisti a telefonar e quando voltei ela tinha chorado mas estava tudo bem: também foi muito importante para o pai, que ficou com ela e pode sentir/gerir o seu ritmo sem eu o dirigir. Até aos 6 meses só o fiz mais uma ou duas vezes, e por 2horas máx. Isso mostrou-me que podia ser eu, sem deixar de ser a mamã, e também que a moyinha é mais consciente do que eu pensava: portava-se sempre bem e lidava bem com a situação.
    Durante os 2 primeiros meses eu também me esquecia de tudo: a cabeça está a reservar espaço p/ o que agora interessa e o resto é esquecido para não nos distrair do importante.
    Morria de medo de a deixar nalgum lado porque apesar de ser a coisa mais importante da minha vida, era algo novo e não estava habituada a tê-la "do lado de fora".
    É perfeitamente normal duvidarmos das nossas capacidades. não vejo isso como uma coisa má: antes pensar passo a passo no que estamos a fazer e como fazê-lo bem do que pensar à-partida que somos as melhores e não estar abertas a outras soluções.
    Tive uma reacção inversa À tua: adorei estar grávida e o primeiro mês custou-me muito já não sentir movimentos nem ter aquela forma voluptuosa. E a mesma coisa quanto ao bebé: era lindíssima mas eu pensava que ela estaria mais alerta e em sintonia comigo e ela ainda era pequena demais para tal: tinha as suas necessidades e rotinas mas era só para isso que eu parecia servir. Agora não: ela muda realmente todos os dias mas cada vez me fascina + e cada vez somos + cúmplices!
    Tenho gostado de tudo: cocós, xixis, papas, mamas: só nao achei muita graça as cólicas...
    Que giro! Eu também revejo nela expressões dos avós, bivós e nossos! é tão engraçado!
    Ir trabalhar: parece que custa muito mas no meu caso inacreditavelmente foi bastante tranquilo: ela fica em casa com a avó e eu passo umas horinhas descansada a trabalhar e volto cheia de vontade de a abraçar! No mamaraopeito.org tens uns workshops sobre o assunto que são capazes de ajudar. é porque quando chega a uma altura em que eles já pedem tanto de nós e nós já estamos há tanto tempo com eles que sentimos culpa por pensar tal coisa: já desejar umas horas longe deles!
    Quanto à casa: aceita toda a ajuda que puderes. Contenta-te em conseguir fazer as refeições e comê-las e, quiçá, tomar um banho: isso para mim já era um dia bem-sucedido a tomar conta dum bebé!
    O grande segredo, que tu já sabes: a partilha. Todos estes temas, todos os sentimentos, já passaram pela cabeça de outras mamãs e é bom partilhá-los. Aproveito para dizer que vai haver reunião da API dia 12... ESpero conhecer lá o Sebastião ou então noutro local, em breve...

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