Se, até à gravidez, já havia uma voz que me dizia que havia mudanças a empreender no lufa-lufa do dia-a-dia para que a minha vida tivesse mais sentido, se já me questionava sobre 1001 coisas (*) quando fiquei grávida - em plena sabática meditativa que pude tirar graças ao trabalho árduo do MARAVILHOSO pai do meu filho - senti uma urgência em fazer parte da mudança, em partilhar, criar comunidade, desacelerar, simplificar, procurar o fisiológico, o biológico, o natural, de me ligar aos milhões de anos que a minha espécie tem de existência, ao que a cultura (ainda) não conseguiu destruir.
A gravidez, o nascimento do meu filho, o amamentar, acarinhar, limpar e protege-lo todos os dias, 24 horas por dia, trazem-me a plenitude da vida. De repente, tudo faz sentido na sua forma mais simples, mais intuitiva … todas as opções são naturais. Não se trata da mãe que quero ser ou do filho que quero que ele venha a ser. Trata-se de viver aqui e agora de forma consciente, sustentável e plena dando importância ao que, para mim, realmente é importante.
Um mês depois do Sebastião nascer a minha mãe soube que tinha linfoma (rádio, volta a trabalhar para a semana) e uns meses depois (já esqueci quantos) o pai da minha mãe morreu engasgado com o almoço (comida na traqueia ou algo igualmente simples mas fatal). Perante o nascimento e morte, a vida apresentou-se-me tal como é, um ciclo. Esta constatação trouxe-me a certeza de que este é o caminho que quero continuar a empreender pois se, inevitavelmente, me dirijo para a morte o importante é como e com quem faço a caminhada.
(*) o facto de termos uma sociedade baseada no consumo com a consequente obrigatoriedade de se trabalhar para auferir um rendimento que o alimente, as desigualdades sociais, a degradação do ambiente, a destruição das formas de produção tradicionais e sustentáveis (é engraçado porque em 1999 a minha tese de licenciatura foi sobre a agricultura bio. Mas só 10 anos depois passei a ser consumidora bio.) o fim dos sistemas de trocas, a incongruência das fronteiras e todas as outras formas de dividir, a (in)governabilidade dos nossos sistemas políticos, a quase impossibilidade de habitar de forma saudável as nossas cidades, a ineficácia dos sistemas escolares que reproduzem desigualdades e mentalidades em vez de estimular a criatividade e a mudança, a adulteração das dinâmicas comunitárias e familiares (individualismo, consumo, TV) ....
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