O mundo virtual está inundado de blogs, sites, grupos e fóruns sobre a maternidade e os cuidados à primeira infância.
Numa leitura transversal percebemos que os há para todos os gostos e crenças e que as respostas de uns são mais credíveis do que as de outros.
Há muitas questões colocadas on-line, que não são dúvidas, são desabafos de mães que necessitam de colo e apoio presencial.
Há muitas respostas dadas, também on-line, que não visam ajudar quem pergunta mas sim levar uma crença (ou bandeira) o mais longe possível fazendo-a chegar a outras famílias.
Assim sendo, a mãe que inicialmente coloca uma questão, pode sair da discussão que se cria muito lesada, confusa e em muito pior situação emocional e familiar do que antes de a pergunta ter sido feita.
Em alguns grupos, fóruns e blogs, a leitura das perguntas e respostas e discussões está aberta a todos os internautas, sendo que uns omitem as identidades dos participantes e outros, não.
Tudo o que ali fica escrito poderá ser lido durante anos a fio, por milhares de pessoas que vão ficar tão desinformadas e confusas como os participantes e leitores iniciais.
Quem passa o seu tempo a ler e responder a perguntas mal formuladas, rebater formulações/crenças erradas e/ou carregadas de julgamento e agressividade - geralmente para com os filhos, maridos, pais e sogras dos participantes e extensível a todas as pessoas que se atrevam a ter uma opinião contrária à sua - perde tempo precioso de conexão com os seus (filhos, maridos, pais, sogras, gatos, cães...) e tempo precioso de leituras mais construtivas e úteis.
Recentemente, chegou-me uma destas conversas de conteúdo estéril e carregadas de agressividade e certezas. Não me ocorreu ir imediatamente ler o que, pelo que comigo partilharam havia ali conteúdo mau o suficiente para me manter afastada mas, achei interessante a partilha.
Era oriunda de um dos fóruns sobre parentalidade, em língua portuguesa, com menos qualidade em termos de conteúdos, o "de mãe para mãe". Aliás, é excelente para troca e venda de artigos, para a resolução de questões práticas sobre médicos, escolas, atividades... mas, porque não tem uma filosofia subjacente e se guia pelo princípio de que "todas as opiniões são válidas", "cada um deve fazer aquilo em que acredita" e "todos os pais fazem o melhor que podem" facilmente se torna um campo de batalha entre:
os que amamentam e os que não amamentam,
"passar a noite no peito com quase 2 anos???
Acho que vão\estão haver coisas no desenvolvimento dela que não vão\estão no bom caminho."
"A criança em questão não usa a mama para comer ... usa-a para dormir e aí é fazer da mama uma chupeta!"
os que dormem com os filhos e os ensinaram os filhos a dormir sozinhos desde os 4 meses,
"dormir na tua cama não é bom para ninguém ... até está a prejudicar a tua intimidade com o marido e não faz sentido estar na mama ... afinal de contas ... tem quase 2 anos "
os que acreditam em regras e limites e os que não acreditam,
"sabes eles nessa idade são super inteligentes e sabem como chamar a atenção e como fazer manha para terem o que querem nos como pais é que temos que impor regras"
os que acreditam que os castigos são bons e os que não acreditam,
"um castigo uma vez ou outra nao lhe vai fazer mal""
os que batem nos filhos porque tem que ser e os que ficam horrorizados com isso,
Cada um defende o que faz e acredita e, para se defender, ataca os que fazem diferente, como se atacar e defender ideias fosse o único objetivo da sua participação naquele diálogo:
"É isso, cada um faz o que quer. Mas este é um espaço para darmos opiniões, pensava eu...
Cada um defende aquilo em que acredita."
"Exactamente, é um espaço para dar opiniões, e eu dei a minha e reservo-me ao direito de não concordar com a sua, ou não posso fazê-lo?
Cada um sabe o que é melhor para si e para os seus."
"Claro que pode não concordar com a minha... Onde é que eu disse que não podia?
Mas eu também posso discordar da sua e defender a minha!"
A questão inicial? perdeu-se. A mãe que a colocou estará a ser ajudada? Não creio?
Para que não tenham que adivinhar a pergunta inicial, aqui fica o link para a discussão completa e um pequeno resumo: tratava-se de dificuldade de comunicação com o marido.
Comentei o que esta discussão me pareceu, com quem a partilhou comigo, e foram lá colar a minha leitura:
"eu, ainda hoje, pensava que a mãe que perguntou necessita de muita informação e muitas ideias de como preencher o seu dia de forma a que não se encontre carente quando o marido chega a casa. Necessita também de ideias de coisas para fazerem a 3 que lhe dê a possibilidade de conexão com o marido, que a faça sentir-se cuidada.
necessita ainda de ser menos critica e vítima, da forma como se exprime parece que o marido e a filha estão errados e ela está certa, certa e abandonada por eles.
ali não lhe dão ideias nenhumas de como resolver os problemas e só interferem com o que já está bem que é dormir com a criança e amamenta-la.
as necessidades de conexão, carinho, diálogo, atenção de uma mãe são reais e devem ser tidas em conta mas não é em detrimento das necessidades da criança e contra a vontade do pai, ela mesma diz que se desentendem por ela querer a atenção dele e ele estar mais disposto a dar atenção á filha.
Se continuam por aquele caminho será mais um divórcio ou mais uma relação adversarial com a menina adorar o pai e a detestar a mãe. Se ainda por cima a desmama e a põe no seu seu quarto... perde tudo, a conexão com o marido e a filha.
ninguém comenta estas questões, limitam-se a guerrear sobre amamentação e co-sleeping. Eu mesma, só me lembrei disto hoje. Percebemos mesmo muito pouco sobre relacionamentos e amor, tão pouco que nem deles conseguimos falar e escrever..."
Apenas citei aqui algumas das coisas que lá são ditas, muito, mesmo muito pouco. Ler a conversa toda é integrar mais horrores do que um dia de primavera pode suportar, são 4 páginas de pura guerra, jamais o conseguiria fazer.
Não podemos decidir o que as pessoas escrevem on-line mas podemos decidir que pessoas queremos ler on-line. Sobretudo, podemos escolher onde perguntar e opinar, onde e como despender do nosso precioso tempo.
Já fizeste essa escolha?
Mal comecei a ler o post já sabia de qual fórum estavas a falar. Eu costumava passar lá de vez em quando e até comprei umas roupas (impecáveis) a uma mãe que lá tem uma loja, mas quando dei uma opinião diferente do que queriam ouvir ai credo que fui atacada. Deixei sequer de ler porque ali realmente não se aprende nada.
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