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Vazio
Desde alguns anos a esta parte, todos os meus sonhos saíram furados, todos os planos foram por água abaixo, todos os meus desejos empurrados para baixo do tapete, todas as minhas esperanças enterradas.
Aos 36 anos, descubro-me a zeros, mais perdida do que na adolescência, sem caminho para seguir, sem objectivos, sem metas... Vazia... Bem me diziam para ter cuidado com o que peço... eu pedi esta experiência de clarificação e libertação e eis que me encontro tal e qual pedi, vazia.
Não sou, seguramente, o que fui outrora. Não, não sou essa. Não sou a que sonhava que viria a ser - "quando tiver trinta anos", " quando for mãe", "quando comprar uma casa" - não,não sou nada disso. Não sou a que lutou tantos anos para "ser" - escola, boas notas, faculdade e mais boas notas, trabalho, trabalho e mais trabalho.... - Essa também já não sou. Não sou aquela que se encantou com 1001 coisas novas e pensou poder mudar o mundo, pelo menos, o seu mundo. Essa também já cá não está.
Não sei quem sou. Não sei para onde vou. Tenho um vislumbre de onde vim mas, sem ilusões, vale o que vale um conjunto de memórias. As vezes penso "antes aos 36 do que aos 50, ou 60, ou 80, se lá chegar".
Vive-se tão bem com esta consciência do nada que somos, como se vive quando estamos cheios de nós. Ontem, quando me sentei na relva, com duas crianças ao colo, pés descalços, chupa-chupa em punho, a rir às gargalhadas com o palhaço, estava tão leve e feliz como estive leve e feliz, nos momentos felizes de quando pensava que sabia quem era.
Hoje, na cama, no escuro, a escrever esta mensagem, estou tão emocionada como nos momentos em que, cheia de sonhos e certezas, a vida me emocionava ou, eu me emocionava tanto com a vida como com a ausência dela.
No momento presente, nada mudou. É quando olho para o que poderia ter sido e para o que não sei que vai ser que me aflijo e, aqui, 36 anos sentem-se de forma diferente dos 16 ou 26.
Muito a sentir nesta esta, para mim, nova realidade.
p.s. ando em fase de turbilhão emocional, vou escrevendo o que consigo pois já me disse a experiência que, em breve, (re)conto uma história toda certinha sobre estes meses, como se tudo tivesse um propósito divino que me levou ao sítio x ou y, numa sequência perfeitinha e esqueço as estranhas sensações que agora sinto. (tb sou capaz de ter ouvido isto em algum lado e já não me recordar).
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