Enquanto me retiravam a placenta (que saiu inteira) e reparavam os muitos rasgões internos do parto o meu bebé gritava numa mesa ao lado e o nosso campo de visão estava tapado pelos corpos das duas enfermeiras que o manuseavam.
Findos os procedimentos médicos quer à mãe, quer ao bebé, começaram a levar-me para outra sala. A sala de parto onde me encontrava era então necessária para uma das muitas parturientes que esperavam a sua vez de trazer os seus bebés ao mundo.
Nesse momento pedi o meu filho para ele poder mamar mas tal foi-me negado. Insisti tanto que acabei por gritar que o bebé era meu e eu é que sabia o que era melhor para ele e lá mo colocaram ao colo bem enroladinho numa mantinha e "enfraldado".
Ainda no corredor e a caminho do recobro comecei a dar mama ao Sebastião e foi uma grande confusão. Eu tinha dores, ele chorava, a cama a mover-se ... os dois sem perceber nada do assunto e em movimento!!!!!!!
Em nenhum momento um elemento da equipa médica me explicou como dar de mamar ou me deu tempo e espaço para o fazer com calma.
A sala do recobro era um conjunto de camas vazias, tudo muito apertado, cheio de luz forte e em frente a uma secretária enorme onde vários médicos se revezavam para ir à Internet que (espantem-se) não estava a funcionar (aliás, fiquei a saber que nunca funciona o que é uma vergonha!!!! - Dizem eles). Na tal sala (que também é escritório, sala de lazer e sabe-se lá mais o quê) estava eu, o meu filho e mais uma puérpera que perguntava porque é que eu tinha o bebé e ela não (o bebé dela chegou logo, logo a seguir). Também aqui ninguém nos ajudou na amamentação. Aqui até foi mais caricato porque parecia que nós nem existíamos (tal era a loucura da Internet e intranet).
Num dado momento sentia muitas dores por estar sempre na mesma posição e pedi ajuda a uma das enfermeiras que estava de passagem. Queria ajuda para me virar e ela Segurou no Sebastião e quando eu pensava que me ia ajudar, saiu pela sala fora sem dizer palavra e levou o menino com ela. Passou o que me pareceu ser uma eternidade com o bebé a chorar numa sala ao lado e eu sozinha à espera de perceber o que se estava a passar.
Quando a enfermeira voltou deu-me uns puxões valentes na barriga, magoou-me à farta sempre sem dizer uma palavra e o bebé sempre a chorar na sala ao lado.
Findo o martírio dos coágulos, a mesma enfermeira solicitou uma arrastadeira e mandou-me (mandou mesmo de forma rude) urinar só que eu não conseguia fazer aquilo com dores, naquela posição e com assistência de modo que a simpática auxiliar que trazia a arrastadeira disse umas quantas coisas também nada simpáticas e deixou-me a implorar por água para beber, uma torneira aberta e um pouco de privacidade antes de avançarem com a nova algália que olhava para mim na cama ao lado. parece-me estranho que se deva urinar em tais condições e sem ter bebido água nas últimas horas mas talvez alguém me saiba explicar porque se procede desta forma?
É sabido que se deve fomentar a amamentação nos primeiros 30 minutos de vida. É também sabido que a amamentação do recém-nascido ajuda a expulsão da placenta, e facilita a vinculação mãe filho. Porque ainda não facilitam este momento tão importante?
Entre o nacimentos e os primeiros momentos de paz e intimidade com o meu filho passaram quase 4 horas.
Ó querida, lamento tanto. Infelizmente no serviço público é mesmo assim, embora haja excepções. Mãe e filho são tratados como gado.
ReplyDeleteO que importa é que passou e agora já estão nos braços um do outro.
um beijo grande
Minha querida, não consigo evitar que me caiam as lágrimas ao ler este post...
ReplyDeleteLamento tanto, tanto por ti e pelo teu filhote... Um momento que devia ser de paz, de amor e de carinho, correr assim... dessa forma fria, ainda por cima ser tratada assim por mulheres, que supostamente terão passado pelo mesmo, e deviam ter mais empatia e respeitar o momento...
Não é anedótico, de tão ridículo que é, mas agressivo e impensável! Por isso queria mesmo que houvesse o debate sobre o Nascer em Portugal! Para que as pessoas reflectissem sobre o que se está a passar e pudessem alterar comportamentos no atendimento às parturientes e puérperas. Afinal, se há progresso, porque parece no final que as máquinas mais importantes que nós?
Um grande abraço e lembra-te que já passou tudo e que agora ele está nos teus braços...