1 ano de conversas sobre amamentação. Parte II

Estou rodeada de mulheres que tiveram ou tem problemas com a amamentação e, em 99,9% dos casos, trata-se de falta de informação (só uma das mães tem um problema fisiológico disgnosticado e, curiosamente e apesar das dores que sente, amamenta o seu filho com mais de 1 ano).

Muitos são os mitos que atrapalham a amamentação dos nossos bebés e muitos são os familiares, amigos e profissionais que os propagam:

Coisas que mulheres que conheço fizeram recentemente:

(queridas mães, eu sei que amam os vossos filhos e que dão o vosso melhor mas os mitos e mentiras sobre a amamentação tem que ser sistematicamente expostos para ver se deixam de ser os guias das mamas do futuro!)

- tirar quase meio litro/dia de leite com a bomba eléctrica para fazer stock e utilizar durante um pico de crescimento. É que lhe disseram que muitas mães deixam de dar de mamar porque durante os picos de crescimento, o leite não chega e assim pode completar as mamadas com o leite congelado (o bebé tinha menos de 1 mês). Curiosamente, quando este mesmo bebé teve um pico de crescimento (aos 3 meses) esta mesma mãe levou-o ao pediatra para fazer uma ecografia pois queria-se certificar de que ele não tinha nenhum problema no estômago. É que tinha muitas cólicas e estava sempre a chorar. Eu estava por perto e tentava dizer que desse mais mama mas não adiantava, as mamadas regiam-se pelo relógio e o bebé não podia mamar mais do que X sob risco de ficar gordo;

- se o bebé" bouçar" é porque mamou demais e então tem que se fazer intervalos maiores entre as mamadas;

- se continuar a dar de mamar em "livre demanda" o bebé vai ficar obeso e por isso tem que restringir as mamadas;

- mamar muito faz ar na barriga e por isso há que restringir as mamadas; Quanto mais mama, mais ar engole;

- o bebé dá sinal de que quer mamar quando chora logo, nenhum dos sinais dados antes (procurar a mama, fazer ruídos..) é interpretado como sinal de que quer mamar;

- o bebé adormece a mamar logo é preguiçoso, não está com fome senão não adormecia, é porque está a fazer chucha com a mama etc...;

- não há benefício nenhum em mamar após os 6 meses;

- mamar após os 6 meses é vício;

- é muito importante diversificar a comida após os 4 meses para eles aprenderem o sabor dos alimentos e para depois virem a gostar de comer de tudo;

- o bebé é esperto e prefere a o biberão à mama; já percebeu que do biberão sai mais, que do biberão enche mais etc....

- o bebé desmamou sozinho antes dos 6 meses, começou a recusar a mama e o leite acabou por secar (e recentemente conheci uma mãe que diz isto do bebé de 2 meses; A ideia de que o bebé pode ter feto confusão entre a tetina e a mama é completamente recusada pela generalidade das pessoas incluindo pessoal de saúde;

- o bebé tem sede e por isso tem que beber água; a mama é para comer e não para beber; não pode estar a mamar cada vez que tem sede; se não bebe água pode morrer desidratado etc..

- mamar é uma refeição logo o bebé tem que mamar ao pequeno almoço, lanche etc...

Disseram-me na maternidade (Magalhães Coutinho, Setembro de 2010):

- o bebé chora porque o leite é fraco;

- está a fazer da mama uma chucha (ouvi isto muitas, muitas vezes na maternidade);

- (sobre a minha doula) "cuidado porque elas são fundamentalistas, não se deixe enganar porque algumas nem os mamilos de silicone aconselham" (LOL); Ainda bem que me deixei enganar pela querida Sofia Carvalho;


O que ouvi num suposto workshop sobre amamentação feito pela GEOFAR:

- em caso de ter que tomar alguma medicação não pode amamentar e tem que tirar leite com a bomba;

- é muito importante deixar as outras pessoas da família ajudar, por exemplo as avós, e por isso deve-se tirar leite para que essas pessoas possam dar o biberão e deixar a mãe descansar;

- é mesmo muito importante incluir o pai na amamentação e por isso deve-se deixa-lo dar o biberão ao bebé. se a mãe fica muito centrada no bebé o casamento pode estar em risco porque o marido sente-se posto de lado. Para evitar que tal aconteça, a senhora recomendou que as mulheres dessem ao marido a possibilidade de também "alimentar" o bebé. Eu achei a coisa muito estranha e saiu-me algo como " se o pai do meu filho me pede uma coisa dessas eu fico muito chateada" ao que a senhora responde: "estão a ver, por isso mesmo é que não devem esperar que sejam eles a pedir. Antecipem-se, tirem o leite com a bomba e ofereçam vocês o biberão para eles darem ao bebé. vão ver como eles ficam agradecidos por essa oportunidade" LOL

- se tiver uma mastite dar ao bebé o leite que se tem congelado e tirar o leite do peito com a bomba eléctrica;

- se o bebé mamar muito dilata o estômago e depois vai ser obeso. Ela disse mesmo que há crianças que são gordas por terem mamado muito em bebés!;

- depois ia recheando a "palestra" com preciosidades como, "tirem o bebé do berço e coloquem assim e assado para mamar ... depois voltem a por o bebé no berço e deitem-se a descansar, é muito importante descansar nem que sejam uns minutos". Claro que eu queria perguntar se a senhora nunca tinha ouvido falar em dar de mamar deitada mas... eram tantas as coisas estranhas que decidi ficar calada.

5 comments:

  1. É incrível a quantidade de palhaçadas que se dizem por aí relativamente à amamentação... é muito triste que se estejam a privar bebés do melhor que lhes podemos dar que é o leite materno. E quanto ao "medo" das doulas isso é natural, como eu já disse noutro comentário é como se fossemos uns selvagens que andam fora da sociedade a ter filhos na selva....

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  2. Olá Ana,

    é realmente triste que haja tanto mal entendido em torno da amamentação.

    Fico triste sempre que vejo uma mulher aflita com a amamentação, convencida de que tem que ser aquele martírio, que faz parte da dificuldade inerente ao crescimento de uma mãe.

    Mas, há cada vez mais informação disponível e isso dá-nos esperança de que a generalidade das mães e dos bebés venham a ter dia mais tranquilos.

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  3. Credo! Eu dei de mamar pouquissimo tempo (cerca de 2 meses, 3 meses da 1ª filha) e sei que foi por minha culpa. Não me culpabilizo, nem tenho remorsos, nem nda que se pareça. E odeio fundamentalismos, odeio mesmo! Mas é assustador que profissionais de saúde, as supostas pessoas a quem pedimos ajuda quando a amamentação não corre bem nos darem estas respostaas e conselhos. Felizmente algumas mães guiam-se pela intuição, outras conseguem informações correctas, mas e as que não conseguem?

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  4. Não há como culpar uma mãe por não amamentar. Vivemos num contexto tão cheio de tabus, mitos e mentiras e tão dominado por interesses económicos que se torna difícil perceberb o que fazer.

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