Preparar o parto e a epidural: Somos obrigadas a aceita-la antes do parto?

A data vai-se aproximando e pensei que ia ficar nervosa mas estou mesmo muito tranquila. Sinto que tenho toda a informação de que necessito para preparar o parto e a vinda do Sebastião. Para o parto em si, acabei por concluir que só necessito de algumas informações importantes:

- Confio em mim e na capacidade do meu corpo para parir;
- Confio na vontade que o meu filho tem de nascer;
- Confio nas pessoas que escolhi para me acompanharem neste momento e na sua capacidade para me ajudar;
- Dor não é sofrimento.

Toda a gente e diz que, durante o parto, esqueceu tudo o que aprendeu. Assim sendo, cheguei à conclusão que é melhor reduzir a informação ao mínimo, eliminar as técnicas simples ou complicadas e confiar.

Lembro-me de ensinar muitas vezes aos meus alunos que para trabalhar problemáticas novas devemos utilizar metodologias conhecidas e para metodologias novas, temáticas conhecidas. Ora bem, o parto é de facto uma experiência nova e por isso nada como deixar o meu corpo e a minha respiração seguirem ritmos instintivos, que lhes sejam, ainda que eu não tenha consciência disso, conhecidos.

É com estas ideias em mente que tenho passado os últimos dias. E foi com elas que fui à consulta de anestesia na Magalhães Coutinho. Perguntaram-me se conhecia a epidural, se já tinha lido sobre o assunto e se tinha dúvidas. Eu lá disse que não tinha dúvidas e a médica ficou muito espantada. Imagino que para uma médica anestesista que passou a vida a estudar sobre o assunto, chegar uma leiga e dizer que não tem dúvidas sobre a epidural seja uma verdadeira afronta mas, enquanto parturiente, eu realmente não tinha dúvidas.

Ela reformulou a pergunta e saiu-se com um antipático "Então o que é que sabe sobre a epidural?"
- Expliquei que sabia que era algo que gostaria de evitar se assim fosse possível.
Foi o descalabro total. A senhora riu de sarcasmo, disse que nem escrevia uma coisa dessas na ficha pois os colegas, se sabem que eu disse que não quero epidural "depois não lha dão nem que mude de ideias!!!!!".
Esclareci que não disse não querer a epidural, mas sim que "era algo que gostaria de evitar se fosse possível!!! "mas não adiantou, o sarcasmo continuou, a senhora estava mesmo ofendida e não parou de dizer que não me iria oferecer uma técnica que não dominava completamente e que eu nunca iria conseguir sem epidural.

As palavras de elento e encorajamento para o parto que esta senhora me dedicou foram, entre outras, "não consegue", "não vai ser capaz", "vai-se arrepender" ao que retorqui que "gostava de tentar para perceber se consigo" mas fui imediatamente calada com um "de certeza que não consegue!"´e ainda "nunca teve um filho, não sabe!".

O tom de ameaça, superioridade e sarcasmo estive presente em toda a conversa. Ameaça??? Se realmente a epidural é o melhor para mim e para o meu filo não haveria formas mais eficazes de mo demonstrar sem ser através da ameaça?

Terminamos com um "vá para casa ler sobre a epidural"! e mandou-me assinar um papel a autorizar intervenções médicas não especificadas porque, segundo ela, no dia "tem tantas dores que nem consegue assinar".

Na ficha hospitalar escreveu "Ficou de pensar se quer epidural".

Eu gostaria de poder pensar se quero epidural depois de começar a sentir as dores. Como é que posso decidir agora se quero ou não algo que não sei se vai ser necessário? Até do ponto de vista das despesas publicas faria mais sentido darem a efpidural às mulheres que realmente necessitam dela (como recomenda a OMS) e não "obrigarem" toda a gente a submeter-se ao mesmo "ritual".

Diz ainda a senhora que com a epidural posso aproveitar muito melhor o meu parto, posso aproveitar melhor o meu filho porque estarei alerta para "fazer força quando mandamos, parar de fazer força quando mandamos e o parto será mais fácil para toda a gente". Mais fácil para a equipa médica que tem uma paciente calma e talvez mais fácil para mim naquele momento porque tenho menos dores mas não estou certa de que seja mais fácil para o meu filho nem para mim no pós-parto.

É verdade que nunca tive um filho mas também é verdade que não é a Drª Anestesista que vai parir. Penso que isto nos dá, no mínimo, uma situação de empate quanto às expectativas a ter sobre o meu parto.


Daqui a uns dias até posso ser a primeira a gritar por uma epidural mas agora, depois de muito ler e me informar, gostava de poder optar.

Felizmente, como dizia no início do post, estou tranquila em relação ao parto. Se assim não fosse, teria saído da Magalhães Coutinho aterrorizada e certa de que nunca conseguiria, não seria capaz, de por o meu filho no mundo.

3 comments:

  1. Está quase!!! Uma hora pequenina, minha querida. E que tudo corra de acordo com o que planeaste para o momento.
    beijinhos, manda-me um sms quando o menino chegar!

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  2. Minha querida,
    só agora percebi que estava de esperanças!
    Antes de mais, muitos parabéns!
    Quanto à dor/epidural, escrevi um longo post no fórum de onde tirou o meu relato de parto ;)
    Posso contar a minha conversa com o anestesista (o meu Ob achou melhor ter uma reunião com ele pois, embora soubesse que eu não queria epidural, na opinião dele, podia vir a ter que a levar). Então, às 36 semanas, lá fomos falar com o Sr. Dr. (apesar de nessa altura já eu ter a certeza que teria o parto domiciliar, LOL). Viu o meu historial e disse (apesar de eu ter uma série de impedimentos, na minha óptica) que estava mais que apta a levar a dita. DEpois veio com a mesma conversa da sua médica, mas como o meu marido estava presente, foi mais contido. Eu disse-lhe que não a queria, e ele escreveu na ficha que "em princípio não quer". Disse que era a melhor coisa desde o pão cortado às fatias porque, e cito "já viu o que era as parturientes andarem aí todas aos berros pela maternidade?" ou ainda "assim vai estar muito mais relaxada, pode ficar a ler uma revista ou jogar às cartas e conversar com o seu marido" (!!!!) Apeteceu-me responder que eu estaria lá nesse dia para parir e não à espera do comboio, mas contive-me. Aí perguntei-lhe: "e Sotor, a epidural não tem riscos?" Ele sem hesitar respondeu que "só tem o perigo de uma leve dor de cabeça para a mãe se não for bem dada", quando na realidade eu sabia que havia muitas mais complicações relacionadas com a dita, tanto para mim como para o meu bebé! (ler: http://www.healing-arts.org/mehl-madrona/mmepidural.htm)
    É verdade que hoje em dia já há muito mais profissionais que a treinam mas a maneira como é dada, quando é dada e como o nosso metabolismo vai reagir à mesma são ainda factores inconstantes que podem determinar o sucesso ou falhanço completo da epidural.
    Recomendo também a leitura de: http://nasceremcasa.blogspot.com/2008/03/porque-fogem-as-mulheres-da-anestesia.html e de: http://nasceremcasa.blogspot.com/2007/04/epidural.html ou ainda: http://nasceremcasa.blogspot.com/2008/08/epidural-um-lobo-com-pele-de-cordeiro.html
    Enfim, saímos de lá ainda mais convencidos da nossa opção.
    A minha mãe não teve epidural e sempre me disse que não custou nada. Não sei se o disse porque sofre de "amnésia-de-mamã" ou se pertence a esse exclusivo grupo de mulheres (segundo a estatística, 1 em cada 10) que não sentem contracções intensas. Mas esse facto, aliado ao que eu sabia ser a epidural, sempre me fizeram querer evitá-la. O principal é acreditar em nós, ter alguém ao nosso lado que acredite em nós (marido ou doula, enfermeira ou médico...), poder mudar de posição (pergunte à sua médica se a maternidade já tem o novo manual da ordem dos enfermeiros com as posições para o parto) e ter acesso a alguns truques como duche, banheira, bola de pilates, saco de água quente ou gelo e muitaaaa massagem. Se puder, faça o máximo de dilatação em casa, estará mais à-vontade e não terá que ser submetida aos inúmeros procedimentos que podem atrasar a progressão do parto. (continua)

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  3. (continuação)
    Não é impossível evitar a epidural num hospital, mas lá que eles a tentam impingir, tentam, e lá que num momento ou noutro, a Want a vai querer pedir, vai. Resista! (o que me valeu a mim foi estar em casa! a certa altura, de certo que já foi na fase transição, pensava que não ia conseguir, que doía muito, apeteceu-me bater nas pessoas à minha volta - estavam a sorrir para mim e a incentivar-me - mas eu estava-me a passar com dores e pensar: PORQUE NÃO FAZEM NADA???... E aí... deu-se o ponto de viragem: não são elas que têm que fazer algo (e até faziam coitadas! muita água me despejaram nas costas e massagens me deram!) ERA EU QUE TINHA QUE PARIR A CRIANÇA! LOL. A partir do momento que encaixei isso, o parto e as dores foram muito mais controláveis.
    É verdade que eu também nunca tinha tido um filho quando dizia que não queria a epidural: mas eu SABIA que não queria sujeitar um filho meu a esse procedimento, que poderia desencadear a necessidade de outros (como a indução ou a cesariana por falta de progressão) e sabia que a dor estava lá para me guiar e mostrar que posição adoptar para o bebé descer e sair. Mais ainda, eu sabia que muitas, mas muitas fêmeas antes de mim tinham passado por aquilo e sobrevivido. Eu seria apenas mais uma.
    E a Want será outra ;)
    Se puder leia os relatos de parto da Farm no meu blogue :) são muito inspiradores! ;) Se tiver acesso ao livro também recomendo (Spiritual Midwifery)
    Se precisar de falar, pode escrever-me: moyinhazinha@gmail.com
    Um abraço e, como dizia uma mamã que conheço: "não quero uma hora curta, quero é curtir a hora!"

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